Início Colunas 3 lições das Páscoas para o desenvolvimento econômico por Sami Goldstein

3 lições das Páscoas para o desenvolvimento econômico por Sami Goldstein

Não temos uma música da Simone, mas o clima está no ar: então é Páscoa! E não apenas uma: como ocorre de tempos em tempos, neste ano temos a coincidência das Páscoas Judaica e Cristã. Umbilicalmente interligadas, mas com significados distintos, ambas têm muito a nos ensinar não apenas no sentido teológico. Será possível encontrar lições dessas datas religiosas para o desenvolvimento econômico?

Comecemos pela origem. Pessach (lê-se Pêssarr) é comumente conhecida como a Páscoa Judaica. A narrativa ultrapassa a casa dos três milênios e remonta à passagem que conta a saída do povo hebreu do cativeiro egípcio. O Êxodo do Egito traça no imaginário diversas construções. A primeira foi, sem dúvida, a descoberta por Moisés de sua ancestralidade. Certamente, uma reviravolta em sua vida. O príncipe descobriu que era filho de escravos. Provavelmente, se tivesse pedido “ajuda dos universitários” da época, teria recebido como conselho o famoso “deixa pra lá”. No entanto, Moisés lançou-se ao desafio.  Saiu da zona de conforto e foi em busca de seus objetivos.  No que hoje chamamos de transição de carreira, passou de príncipe a pastor para no final entrar para a história como grande líder. Empreendedorismo sem iniciativa não é sustentável. Desenvolver é sair da zona de conforto, deixar o comodismo de lado, traçar metas e enfrentar intempéries.

Já na Páscoa Cristã que celebra a ressurreição de Cristo, encontramos a figura de um Jesus a princípio incompreendido, mas que nem por isso desiste de seus ideais.  As boas novas trazem a novidade. A inovação é anunciada não de forma estática e sim com peregrinação. Inovar é um contínuo processo de convencimento já que o novo tem no medo sua primeira reação natural. Jesus foi a seu modo disruptivo, rompendo vícios e sinalizando novos caminhos.  Desenvolvimento sem quebra de paradigmas é apenas testar a receita pronta que talvez não mais funcione. E mais: implica em sacrifício. Não como o de Jesus, mas não se chega lá sem deixar de lado coisas e situações que até então nos são caras. Aliviando a bagagem, abrimos espaço para oportunidades.

Por fim, há um ponto em comum. Tanto Moisés como Jesus viveram sob fortes críticas.  O hebreu era a cada passo contestado por seus liderados.  O nazareno, por sua vez, foi criticado por quem em seu sucesso via uma ameaça ao poder constituído. Quem quiser projetar o desenvolvimento deve estar preparado para uma chuva de reclamações, pois a construção da novidade não se dá de uma hora para a outra. O imediatismo não combina com resultados consistentes. Os líderes das Páscoas sobreviveram à História com bases sólidas e duradouras e assim perdurarão por outros milênios, pois tinham, dentre tantas outras, qualidades fundamentais: noção do presente e visão de futuro. E como dizia o escritor Ralph Waldo Emerson: Depois de tomar uma decisão, o universo conspira para que isso aconteça.

Três lições que não perdem a validade e sempre vencerão as areias do tempo. Desejo a todos Pessach Kasher Vesameach (como se saúda em hebraico) e Feliz Páscoa.

Sami Goldstein – Empregado público federal e secretário de desenvolvimento econômico de Paulínia