No final do mês passado, a BBC trouxe um artigo muito interessante chamado “A ‘ilusão do conhecimento’ que deixa as pessoas com excesso de confiança”. Nele, aborda a ilusão do conhecimento — também chamada de “ilusão da profundidade de explicação” — que foi mencionada pela primeira vez em 2002. Conforme o site, em uma série de estudos inéditos, os pesquisadores Leonid Rozenblit e Frank Keil, da Universidade Yale, nos Estados Unidos, começaram fornecendo aos participantes exemplos de explicações de fenômenos científicos e mecanismos tecnológicos que foram avaliados em uma escala de 1 (muito vagos) a 7 (muito completos). Este método permitiu que todos os participantes formassem o mesmo conceito do que significava a compreensão “vaga” ou “completa” de um tema. Em seguida, veio o teste. Quando confrontados com outras questões técnicas e científicas, os participantes precisavam avaliar o quanto eles achavam que poderiam responder a cada uma delas, usando aquela mesma escala, antes de escrever sua explicação da forma mais detalhada possível. Rozenblit e Keil descobriram que as avaliações iniciais dos participantes sobre sua própria compreensão eram, muitas vezes, dramaticamente otimistas. Eles acreditavam que poderiam escrever parágrafos inteiros sobre cada assunto, mas muitas vezes forneciam respostas mínimas — e, depois, muitos ficavam surpresos com o pouco que sabiam sobre os temas questionados. Deste estudo original, vários outros foram realizados. A exemplo do professor de marketing Matthew Fisher, da Universidade Metodista do Sul, no Texas, Estados Unidos, quem concluiu que as pessoas que haviam usado a internet para responder a pergunta inicial demonstraram maior excesso de confiança na tarefa seguinte. Ou seja, a disponibilidade de recursos online pode alimentar nosso excesso de confiança, uma vez que nós confundimos a quantidade de conhecimento disponível na internet com nossas próprias memórias.
A difícil arte de pensar está cada vez mais difícil. O excesso de confiança em um dito conhecimento sobre tudo, sendo este “tudo” nada mais que sopa de letrinhas virtuais convenientemente coletadas em algum site favorável, está tornando o já polarizado cenário em um verdadeiro barril de pólvora. Frases que não se completam, argumentos que não se sustentam: este é o norte dos inflamados debates que vemos nas redes sociais. A discórdia impera. As amizades são desfeitas. Famílias inteiras se desentendendo. Os pesquisadores Leonid Rozenblit e Frank Keil teriam um prato cheio para seu experimento em um Brasil tão dilacerado por aquilo que muitos acreditam ser política. Não, não é! Política é ser construtivo, propositivo e ter projeto. Qualquer coisa fora disso é revanchismo travestido de luta pela causa maior. No final, nada além de briga de recreio. Mas como explicar isso para quem sofre da ilusão do conhecimento?