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Desperdício. Até quando?

Sami Goldstein

Não, não se trata de uma coluna sobre ecologia, embora o tema seja mais que prioridade. Tampouco é uma crítica a hábitos alimentares ou tempo gasto em redes sociais. O assunto é dos mais sérios e não há como não tocar na ferida. Ferida essa que merece total atenção dos poderes constituídos, muitas vezes mais preocupados com picuinhas do que com seus papéis constitucionais. Enquanto o circo de horrores pega fogo, ainda mais em ano eleitoral, a cortina de fumaça ofusca os olhos ante os reais problemas. O que está em jogo é mais que o voto em urna. É o futuro, cada vez mais desafiador e assustador.

A página brasileira das Nações Unidas trouxe, nesta semana, o artigo “Brasil perdeu 10 anos de progresso em Índice de Capital Humano”. Citando o “Relatório de Capital Humano Brasileiro – Investindo nas Pessoas” divulgado na última segunda-feira (4) pelo Banco Mundial, o documento estima a perda ou acúmulo de habilidades pelos indivíduos até os 18 anos. “O relatório aponta que por causa da crise sanitária, econômica e educacional dos últimos dois anos, o Brasil perdeu o equivalente a uma década de progresso no Índice de Capital Humano. Uma criança brasileira nascida em 2021 perderá, em média, 46% do seu potencial total devido às condições de saúde e educação, agravadas pela pandemia de COVID-19. Já para as nascidas em 2019, esse percentual era de 40%. Em dois anos, por causa da crise sanitária, econômica e educacional, o Brasil perdeu o equivalente a uma década de progresso no Índice de Capital Humano”, informa a ONU. O caminho para a recuperação será longo, segundo o relatório. Considerando-se a taxa de crescimento antes da pandemia, o ICH do Brasil levaria de 10 a 13 anos para retornar ao patamar de 2019. Ou seja, o Brasil chegaria novamente ao ICH de 2019 somente em 2035.

Estamos desperdiçando tempo em vez de investi-lo na segurança do futuro de nossa nação. Umas das recomendações para que o Brasil acelere a recuperação do capital humano não poderia ser mais óbvia: é essencial fortalecer a aprendizagem híbrida, ampliar a conectividade à internet, fornecer dispositivos computacionais para alunos vulneráveis e aprimorar as competências digitais. Em resumo: capacitar. Não existe segredo. Só a capacitação integrada à educação cria o ambiente favorável ao desenvolvimento sustentável e consistente. Projetem o cenário para os próximos anos e tentem visualizar a nova crise que se está criando: não somente a falta de mão de obra, mas a falta de capacidade de se ter mão de obra. Na luta pela sobrevivência, empresas investirão ainda mais em tecnologia, extinguindo tantos outros postos presenciais. E, com isso, problemas sociais se agravando. Tecnologia é o futuro, mas precisamos capacitar no hoje. Estamos desperdiçando vidas, as mesmas que a pandemia não levou. Até quando?