Sami Goldstein
Como de praxe em nosso país, costumamos lembrar as datas oficiais normalmente em duas ocasiões: quando estamos na escola e as aprendemos ou quando são feriados oficiais. E quando duas datas são próximas, sendo apenas a primeira feriado, normalmente a segunda cai no esquecimento. Ou, no mínimo, na “falta de lembrança”. É o caso desta semana em que também temos no calendário o dia 22 de abril, marcado na história brasileira como a data da chegada dos portugueses à nossa terra. O chamado “Descobrimento do Brasil”. De lá para cá já se passaram 522 anos e nem vou adentrar no mérito do dito descobrimento, pois tudo hoje em dia vira motivo para polêmica. Aliás, o tema já até virou palanque eleitoral recentemente. Independentemente do contexto histórico – repito, não é o objeto desta coluna -, fato é que aqui estamos em um Brasil que apesar de ter ordem e progresso estampados em nossa bandeira, anda bem longe desse ideal. Uma coisa certamente não mudou ao longo destes séculos: continuamos sendo o país das oportunidades que adora perder as oportunidades.
A UOL trouxe um preocupante sinal amarelo nesta semana. Segundo o site, “as sucessivas crises econômicas fizeram a indústria brasileira encolher nos últimos anos. Após ter atingido um pico histórico em agosto de 2013, ainda no primeiro governo de Dilma Rousseff, o faturamento industrial recuou 22,5% até o último mês de fevereiro. Os dados são da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que já leva em conta ajustes sazonais (conforme o mês) e pela inflação. Sem indústria, o país sofre com menos trabalho de qualidade, onde se pagam salários melhores. Esta queda de faturamento desde o pico histórico ocorreu em um período em que o Brasil enfrentou a crise das contas públicas (concentrada em 2015 e 2016) e a pandemia de covid-19, além de turbulências políticas. Especialistas ouvidos pelo UOL afirmaram que, mais do que as crises, o Brasil vem se desindustrializando já há quatro décadas, por causa de deficiências estruturais.” Sem demagogias políticas, fato é que nenhum governo desde a redemocratização teve como pauta principal a industrialização. Some-se a isso o não menos preocupante índice trazido pelo G1, dando conta que “o Brasil atingiu recorde de mais de 33 milhões de pessoas recebendo no máximo 1 salário mínimo. É o que mostra um levantamento da LCA Consultores, feito com dados do IBGE. São pessoas que passam sufoco para sobreviver.” Além disso, em uma breve consulta à Receita Federal e constatamos a explosão de Micro Empreendedores Individuais no comparativo do primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2020, início da pandemia. São 3.840.632 MEI´s a mais, alta de 38,72%. Muitos dos quais empreendedores por necessidade. Ou até mesmo por desespero.
É hora de redescobrir o Brasil. Enquanto Cabral distribuía penduricalhos em troca de apoio, hoje fazemos o mesmo escambo de forma mais sofisticada. Em vez de “botar ordem no poleiro”, vivemos uma inimaginável Babel bíblica. Progresso então só se antecipa à República no dicionário. Precisamos de políticas públicas sérias, consistentes e sustentáveis para reindustrializar o país. Seguimos sendo um exportador de matéria prima tal qual na época das naus. Estamos perdendo talentos para o exterior. Nossas empresas carentes de mão de obra qualificada. Nossos empreendedores, muitos dos quais conhecedores do processo mas não da burocracia, muitas vezes sem o mínimo de suporte. Salários baixos viraram a regra em vez de exceção. Precisamos de menos palanques assistencialistas e mais ações contundentes de capacitação e qualificação profissional. Senão, corremos o sério risco de surgir um novo Cabral com a intenção de “descobrir” o Brasil por nós. De novo!