“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte, para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil”. Como essas pomposas palavras, inicia-se nossa Carta Magna em seu preâmbulo. Somos, como se pode ver, uma república. República é uma forma de governo na qual o governante é eleito pelo povo. O termo vem do latim res publica, ou seja, bem comum, coisa pública. De forma bem resumida, é o formato que se opõe à monarquia, em tese, o único sistema que centraliza o poder em apenas uma pessoa. Em tese…
Em tese, a Constituição de 1988 deveria assegurar direitos e garantias fundamentais. Em tese, todo republicano deveria curvar-se a ela para orientações e diretrizes. Em tese, todo o poder emana do povo. Em tese, somos uma sociedade fraterna, fundada na harmonia social e comprometida com a solução pacífica das controvérsias. Na prática, a teoria é completamente outra. Vemos direitos sendo tolhidos. O poder emana do povo enquanto convém. Para piorar, há muito deixamos se ser uma sociedade fraterna. A harmonia deu lugar à polarização. A controvérsia deixou de ser solucionada pacificamente para virar a solução de um autoritarismo fajuto. O jogo do poder que nos levou ao caos de uma pandemia quase que sem freios nos torna peões em um perigoso tabuleiro repleto de interesses pessoais.
Em tese, somos uma República. Na prática, uma REIpúbica repleta de atores querendo o domínio e brigando entre si, muitas vezes mais parecendo crianças no recreio. Enquanto o povo é lanchado em tortuosa merenda, os reis republicanos se fartam no banquete onde egos são servidos como moeda de troca por fidelidade. A Proclamação da República celebrada no próximo dia 15 e vista por monarquistas como um duro golpe no reinado de Dom Pedro II fez apenas dar um novo nome a algo já bem antes institucionalizado em nossas terras. Senhores feudais mudam de nomenclatura, mas nunca de posição. É preciso uma profunda reflexão sobre o que chamamos de valores republicanos.
Mas o que importa é que é feriado, não é mesmo?