Em meio às discussões sobre a exportação de mão de obra brasileira para a Europa, é essencial compreender o contexto histórico que moldou essa dinâmica. Desde os primórdios da colonização, o Brasil tem sido marcado por um padrão extrativista que se estende além da apropriação dos recursos naturais. Ao longo dos séculos, nossa nação foi transformada em uma verdadeira máquina exportadora, fornecendo não apenas matérias-primas, mas também talentos humanos para alimentar as demandas estrangeiras. Essa triste realidade, forjada por séculos de exploração, desafia o país a refletir sobre seu papel no mundo e a buscar caminhos que valorizem o potencial interno.
A Europa enfrenta escassez de mão de obra e busca estrangeiros. Entre os setores que mais demandam mão de obra estrangeira na Alemanha, por exemplo, destaca-se o da saúde, onde a falta de enfermeiros e cuidadores é tão crítica que algumas clínicas estão sendo fechadas. A situação é agravada pelo envelhecimento populacional e pelas baixas taxas de natalidade. Além disso, há oportunidades para engenheiros, programadores, especialistas em TI, arquitetos, acadêmicos e professores do ensino fundamental. Buscando atrair profissionais brasileiros, uma delegação do governo alemão, liderada pelo ministro do Trabalho, Hubertus Heil, e pela ministra do Exterior, Annalena Baerbock, esteve em visita ao país. Na mesma semana, outra notícia de igual teor. E vindo do país que há seis anos é considerado o mais feliz do mundo, segundo World Happiness Report. Qualidade de vida, segurança e benefícios sociais estão entre os principais quesitos avaliados pela população para colocar a Finlândia nesta posição. Apesar de altos índices de desenvolvimento, o país também enfrenta problema de falta de mão de obra, ocasionado pelo envelhecimento da população. Para suprir esta demanda, muitas empresas finlandesas buscam trabalhadores estrangeiros em mais de doze áreas. E, claro, aonde vieram prospectar? Em visita ao Brasil, Johanna Jäkälä, diretora executiva da Business Finland, disse que a Finlândia está aberta a trabalhadores estrangeiros, em especial brasileiros, para ajudar no desenvolvimento do país.
Aparentemente, seguimos num ciclo bem a la Chico Xavier em que “o telefone só toca de lá pra cá”. Em outras palavras, a busca por talentos, muitas vezes para serviços mais “operacionais” (uma palavra para suavizar a realidade braçal que normalmente aguarda os forasteiros), é uma via de mão única em que os de lá procuram os de cá e nunca o contrário. A reminiscência da cultura extrativista impele-nos a discutir em qual contexto nos inserimos mundialmente e o que oferecemos em termos de qualificação profissional e oportunidades para a retenção de talentos. Precisamos combater esse movimento “for export” de mão de obra com políticas sérias e assertivas “pra ontem”. Nossa população também está envelhecendo e as taxas de natalidade caindo. Os gringos estão sendo espertos (mais uma vez!). No final da história, se a coisa continuar assim, quem estará aqui para trabalhar?