Dados do Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, realizado pelo Observatório Nacional da Indústria, indicam que o Brasil precisa investir no aperfeiçoamento e na qualificação de pelo menos 9,6 milhões de trabalhadores no setor industrial até 2025. Por outro lado, o Google divulgou nesta quarta-feira (31) um estudo em que mostra os principais desafios do mercado de tecnologia da informação (TI) no Brasil. Segundo a empresa, o país terá um déficit de 530 mil profissionais da área até 2025. Para onde quer que olhemos, seja qual for o setor, os prognósticos são os mesmos e com as mesmas palavras: falta, déficit, carência ou escassez de mão de obra qualificada. Mas esses são sintomas de um problema maior. Na realidade, uma doença que assola o Brasil a qual precisa mais que sempre ser a pauta principal das políticas públicas.
Na semana passada, participei de um congresso de tecnologia e cidades inteligentes. Durante minha fala, dentre outros assuntos, abordei a importância do usuário final – o munícipe – em qualquer ação efetiva de inovação. Sem isso, os investimentos em tecnologia podem ser vultosos, porém certamente inócuos e vazios. A alfabetização digital tão necessária que cria a habilidade de usar tecnologias para encontrar e transmitir informação. A isso se dá o nome de letramento digital. E um dos maiores desafios para o letramento digital no Brasil é a falta de inclusão digital. Em 2021, uma pesquisa da The Economist e do Facebook mostrou que o Brasil ocupa a 36ª posição no ranking global de inclusão digital. O que mais prejudica o avanço do tema no país é a falta de capacidade de uso das pessoas, aceitação cultural e políticas de apoio. Em relação ao processo de inclusão digital, a educação apresenta grande responsabilidade. E aí vamos a um problema ainda maior.
O Ministério da Educação (MEC) também divulgou nesta quarta-feira um levantamento que aponta que 56,4% das crianças terminaram o 2º ano do ensino fundamental em 2021 não alfabetizadas. A quantidade é maior do que no ano anterior, quando 39,7% dos estudantes concluíram o período sem condições básicas de leitura e escrita. Entre os parâmetros para alunos de 7 anos estão escrever bilhetes e convites e ler textos simples, tirinhas e histórias em quadrinhos. E por que essa pesquisa é importante? Pois a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define que a alfabetização das crianças deverá ocorrer até o segundo ano do ensino fundamental, com o objetivo de garantir o direito fundamental de aprender a ler e escrever. A isso se dá o nome de letramento. O mais básico.
Estamos diante de uma bola de neve que só cresce. Esse lento letramento – tanto o fundamental quanto o digital – projeta graves consequências a quem minimamente se preocupa com o futuro de nossa nação. Jovens mal alfabetizados tornam-se adultos não digitalmente inclusos e letrados. Quiçá uma legião de zumbis de redes sociais sem qualquer proveito prático da inovação. O que imediatamente nos remete ao primeiro parágrafo desta coluna: sem resolver o problema nas bases educacionais, como projetar um pujante desenvolvimento econômico? Se alguém souber a resposta, por favor avise!