
Inscrições aconteceram na quarta-feira; pacientes de todo país aguardam procedimento de redução de estômago gratuito
O Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) divulgou um novo balanço do número de pessoas que se inscreveram no programa gratuito de cirurgia bariátrica, popularmente conhecido como redução de estômago, na quarta-feira (12). Segundo a unidade médica, foram 1.987 cadastros efetuados no Ginásio Multidisciplinar da universidade.
A triagem estava programada para terminar às 12h, mas por causa da grande procura algumas inscrições ficaram para o período da tarde e alguns pacientes tiveram que realizar os cadastros no ambulatório da unidade médica.
Os pacientes selecionados farão parte do grupo pré-operatório e passarão por uma preparação antes do procedimento, que deve ser feito em até seis meses. De acordo com a Unicamp, a fila de espera normal é de até quatro anos e duas mil pessoas esperam pela cirurgia no banco de dados da instituição. Serão selecionadas as pessoas que tiverem o Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou maior que 40 ou maior que 35 no caso de pacientes com doenças graves associadas, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, síndrome metabólica e apneia do sono. O IMC é calculado dividindo o peso em quilos pela altura da pessoa em centímetros elevada ao quadrado.
Iniciativa
A equipe de gastrologia da Unicamp tem como objetivo desenvolver iniciativas que permitam à população de Campinas e região ter uma chance mais pontual de combater a obesidade mórbida. “Muitas pessoas acreditam que a obesidade mórbida é uma questão de estética, e não é. É uma doença crônica e inflamatória, que causa outras doenças associadas e que, se não for tratada, pode levar à morte”, explica o gastrocirurgião e coordenador do programa, Elinton Adami Chaim.
Chaim ainda afirmou que das pessoas que realizam a inscrição no programa, pelo menos 60% são encaminhadas para a cirurgia e o prazo para que elas realizem o procedimento é de até dois anos. “Depois de convocadas, essas pessoas fazem um acompanhamento de seis meses, com assistente social, psicólogos e só depois são encaminhadas para o procedimento”, disse. Para fazer o procedimento, o paciente tem que perder pelo menos 10% do peso.
Veio de longe
Uma estudante de 19 anos viajou cerca de três mil quilômetros para se inscrever no programa do Hospital de Clínicas. Mikaeli Marcelino é de Rondônia e abandonou os estudos no 3º ano do ensino médio para se candidatar à operação em Campinas nesta quarta-feira (12). Ela está hospedada na casa de uma tia. “Decidi ficar aqui mesmo sem saber se vou preencher os requisitos e ser escolhida”, disse durante triagem no ginásio da universidade.
A informação sobre a seleção foi publicada em um grupo de uma rede social na internet. Ao ficar sabendo sobre as inscrições, a estudante comprou uma passagem de avião de Porto Velho (RO) para Campinas e está desde segunda-feira (10) na cidade. A medição realizada pelos médicos do Programa Multidisciplinar de Cirurgia Bariátrica apontou peso de 107 kg de Mikaeli, mas outros cálculos, como o do Índice de Massa Corporal (IMC), ainda estavam sendo realizados.
Entre os motivos que levaram a estudante a fazer a cirurgia está o constrangimento que passa na escola, vítima de bullying por causa da obesidade, além da dificuldade de desempenhar pequenas tarefas, como passar pela catraca de um ônibus. Mikaeli conta que tentou fazer a cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Rondônia, mas o tempo de espera, segundo ela, chega a dez anos. “Decidi ficar aqui por dois meses para ver se sou escolhida para fazer a cirurgia, senão volto pra minha cidade e espero ser chamada de lá”, conta.