Sami Goldstein
O que é futuro? Desde criança, ouço que “o futuro a Deus pertence”. Faz todo o sentido sob a ótica da espiritualidade. Já na vida adulta, estudando e atuando no mercado financeiro, o futuro virou longo prazo. “A longo prazo estaremos todos mortos”, é provavelmente a frase mais conhecida do famoso economista J. M. Keynes. Gosto muito da definição dada pelo dicionário Michaelis, para o qual futuro é o conjunto de fatos e circunstâncias que hão de suceder depois do presente. Ou seja – e respeitando todas as visões sobre o assunto – futuro é ao mesmo tempo uma incerteza e uma certeza. A incerteza de desconhecermos com exatidão o que está por vir. E o paradoxo da certeza de que se trata de uma construção no presente, uma consequência direta de nossas ações e, principalmente, omissões agora. Sorte, destino, providência, maktub ou qualquer definição que queiramos dar. Fato é que o futuro é um eco de como agimos e nos comportamos.
Por falar em futuro, é provável que seu filho trabalhe em uma profissão que você nunca ouviu falar. A previsão é do Fórum Econômico Mundial, no relatório Futuro do Trabalho: 65% das crianças que estão começando o primário devem trabalhar em empregos que ainda não existem. Segundo Klaus Schwab, presidente executivo da entidade, “sem uma ação urgente e orientada para gerenciar as transições de curto prazo e desenvolver uma força de trabalho com habilidades profissionais modernas, os governos terão de lidar com uma base crescente de desempregados e da desigualdade, e negócios com uma base menor de consumidores”. O alerta de especialização também consta no relatório do Fórum Econômico: “Os trabalhos que vão reduzir em número estão simultaneamente sofrendo alterações constantes nas habilidades exigidas. Praticamente em todas as indústrias o impacto da tecnologia e de outras transformações reduz o ‘prazo de validade’ das habilidades dos trabalhadores”.
Estamos falando sobre futuro. Curiosamente, já somos o futuro até mesmo desse relatório acima. Ele não é novo: é de 2017. Na dualidade paradoxal do futuro, ele acumula incertezas e certezas. Incertezas como o cenário de pandemia que acelerou processos tecnológicos e de guerra que acentuou a devastação de postos de trabalho, ambos enterrando de vez ofícios e criando novos. Certezas como a de que ações urgentes focadas em constante qualificação profissional eram, são e continuarão sendo políticas públicas das mais importantes em qualquer governo. Temos a receita pronta para a tempestade perfeita de crises sociais irreversíveis no futuro se não atuarmos com força e foco totais na capacitação hoje. Não é mais um mero discurso político; é uma necessidade de sobrevivência. O futuro… a quem pertence? A quem prepara as futuras gerações para não serem estatísticas em tabelas de desempregados. Foi para isso que Deus nos deu inteligência, não?