Sami Goldstein
Lá no início anos 1990, eu retornava ao Brasil depois de alguns anos fora, alternando entre Argentina e Estados Unidos. Vendo de perto as novidades estrangeiras de então e voltando a um país ainda sob o domínio da reserva de mercado, não foi difícil me interessar por tecnologia. A internet ainda era um sonho distante, mas tínhamos algo para nos divertir e informar: os Bulletin Board System. Os BBS, como eram mais conhecidos, eram mais ou menos como provedores web (com fóruns, servidor de e-mail, bate-papo e download de arquivos), só que funcionavam de forma isolada. No tempo da telefonia discada, normalmente esperávamos dar meia-noite para poder pagar apenas um “pulso”. Ligações eram caras. Isso sem falar nos travesseiros para abafar o som do modem que acordava a vizinhança toda. Era uma tecnologia e tanto para a época, mas que não nos aprisionava.
Daí foi um passo para me inscrever no vestibular de um novo curso: Tecnologia em Processamento de Dados. Na faculdade, programando e desvendando o mistério dos códigos, os horizontes se ampliavam. Foi nesse tempo que surgiu (para nós brasileiros) uma novidade: a rede mundial. Nestcape, Altavista, Cadê? e tantas outras celebridades de um passado que hoje somente buscando no Google para saber o que eram. Tínhamos um herói: um náufrago solitário em uma ilha deserta chamado Johnny Castaway que protegia nossas telas. No laboratório de programação, descobrimos por acaso algo que mudou por completo nossas vidas: as salas de chat, bate-papos. Era incrível você entrar em um recinto virtual e compartilhar seu tempo com pessoas do outro lado. Tínhamos apelidos e endereços de e-mails dos mais bizarros possíveis. E como a evolução passou a nos dominar de forma cada vez mais veloz, foi outro pequeno passo para conhecermos ICQ, MSN, Yahoo Messenger e poder fazer ligações telefônicas com o Skype.
Trinta anos depois e todas as quinquilharias de outrora cabem na palma de nossas mãos. As redes sociais virtualizaram nosso cotidiano e nos aprisionaram. Aplicativos de mensagens ao mesmo tempo em que nos aproximam das pessoas, delas nos distanciam. E tudo vai “bem” até que, de repente… o Zap caiu! E com ele, nós também. Uma, duas, três… sete intermináveis horas olhando para nossos telefones para ver se aparecia algum indicativo de que a mensagem foi enviada ou recebida. O mundo pareceu desabar ao ponto de ouvirmos absurdos como “perdoe-me por ligar, mas o Zap caiu”. Nós também. E o que começou lá atrás como uma divertida descoberta, hoje nos sequestra sem haver possibilidade de resgate.
Saudades daquele barulho do modem discado que acordava a vizinhança. Éramos livres e não sabíamos.