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Para onde vamos, Alice?

Sami Goldstein
“Você poderia me dizer, por favor, qual o caminho para sair daqui? ”. “Depende muito de onde você quer chegar”, disse o Gato. “Não me importa muito onde…” foi dizendo Alice. “Nesse caso não faz diferença por qual caminho você vá”, disse o Gato. “…desde que eu chegue a algum lugar”, acrescentou Alice, explicando. “Oh, esteja certa de que isso ocorrerá”, falou o Gato, “desde que você caminhe bastante.”. Mais adiante, o diálogo se intensifica: “Nesta direção”, disse o Gato, girando a pata direita, “mora um Chapeleiro. E nesta direção”, apontando com a pata esquerda, “mora uma Lebre de Março. Visite quem você quiser, ambos são loucos.” “Mas eu não ando com loucos”, observou Alice. “Oh, você não tem como evitar”, disse o Gato, “somos todos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca”. “Como é que você sabe que eu sou louca?”, disse Alice. “Você deve ser”, disse o Gato, “senão não teria vindo para cá.”
Com o título original As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, a célebre obra escrita por Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, foi publicada em 4 de julho de 1865. Apesar de ser uma obra infantil, o texto é repleto de referências e críticas sobre a cultura da época. Em resumo, Alice é uma menina curiosa que segue um Coelho Branco de colete e relógio, mergulhando sem pensar na sua toca. Ela é então projetada para um novo mundo, repleto de animais e objetos antropomórficos que falam e se comportam como seres humanos. Lá ela se transforma, vive aventuras e é confrontada com o absurdo, o impossível. Se ainda não leu, já segue como dica de leitura obrigatória para qualquer idade.
“Para onde vamos, Alice?”, seria a pergunta lógica a se fazer no momento. Já não bastasse o cenário interno tão conturbado, nem saímos de uma pandemia e já entramos em uma situação de conflito global. A Terceira Guerra Mundial pode ainda não ter seu espaço no campo de batalha oficializado, mas o que vemos é que já se iniciou no âmbito econômico. Para apimentar o ambiente de polarização e politização que vimos vendo, tudo isso acontecendo em ano eleitoral. O Brasil parece caminhar como Alice: mais importante que a escolha certa, é ir a algum lugar. O importante é o destino incerto desde que nos seja permitido chegar lá. Sem rumo, sem ordem, sem planejamento. E o senhor Gato a nos olhar bem lá no fundo, dizendo: “somos todos loucos por aqui.”. E ele tem razão. São tempos malucos e vamos colocando lenha na fogueira para piorar cada vez mais a situação. Vivemos como a resposta dada pela jovem à Lagarta em um trecho anterior à simples pergunta “quem é você? ”. Disse Alice: “Eu… já nem sei, minha senhora, nesse momento… Bem, eu sei quem eu era quando acordei esta manhã, mas acho que mudei tantas vezes desde então…”
Assim caminhamos nesses tempos malucos, sem rumo e, por vezes, sem identidade. Para onde vamos, Alice?

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