Por Wilson Machado
Sabe quando os navegadores estão em alto mar e gritam: “Terra à vista”? Então, essa tradicional cena de cinema aconteceu esta semana na Câmara Municipal, onde os vereadores aprovaram, sem pudor, a doação de terrenos para algumas empresas. Quem não acompanha de perto, pode até achar que essa é uma ‘boa ação’ do governo, mas por baixo dos panos, essa doação é um crime, um saqueamento da nossa cidade, uma forma de fazer o que faziam os navegadores da antiguidade: explorar e deixar o povo pensando que é investimento.
Saques milionários
Os terrenos doados pela Prefeitura chegam a valer R$ 3,3 milhão e uma das empresas beneficiadas, a Sadtec Construções do Brasil Ltda, além de ter um capital social declarado para a Justiça de apenas R$ 50 mil, tem apenas dez meses de firma aberta e vai receber um terreno de 52 mil metros quadrados. Fora isso, enquanto todas as outras empresas tiveram cada metro quadrado avaliado em R$ 160, para a Sadtec, o valor é de R$ 60 o metro quadrado. Estranho não é? E se eu disser que a empresa que teve uma doação de um terreno com menos da metade do que foi para a da Sadtec tem um capital social de R$ 10 milhões? Vão dizer que estou procurando pelo em ovo?
A estratégia
Convenhamos, se a Sadtec precisa de um terreno tão grande, me diga como ela vai construir alguma coisa lá se o capital é de apenas R$ 50 mil. Não tem como, não existe lógica. A não ser, claro, que assim que tiver posse do terreno, a empresa simplesmente consiga, como num passe de mágica, um investidor milionário. Ou seja, “agora você tem o terreno e eu tenho grana. Viro seu sócio majoritário e estamos ricos a custas dos trouxas, dos cidadãos e dos próprios comerciantes que pagam impostos!”. Visualizou a cena? A empresa pega o terreno de graça e ‘vende’ por milhões a quem interessar! E quem não se interessa por Paulínia? Hein?
Estarrecido
Eu fico estarrecido, envergonhado, com nojo de como o povo de Paulínia está sendo feito de palhaço por este governo. Só no caso da Sadtec, o terreno vale 65 vezes mais do que a empresa. Fora isso, todas as empresas que ganharam o terreno, terão isenção de impostos como ISS e IPTU. Enquanto isso, o comerciante paulinense, que luta no dia a dia com as portas abertas, que geram uma grande parte dos empregos da cidade e ainda estão sujeitos a tiroteios cada vez mais frequentes, não tem incentivo nenhum. Nenhum mesmo! A Câmara Municipal não vê isso?
Cadê vereador?
Mais envergonhado ainda eu fico ao saber que o vereador Palito fez questão de defender seu voto favorável às doações. Segundo ele, as comissões da Câmara analisaram os processos e “está tudo ok”, “vai gerar emprego”. Que custo exorbitante para gerar emprego, não é vereador? Não tem nada de errado uma empresa com R$ 50 mil receber uma área de R$ 3 milhões 130 mil e 400 reais! Está tudo certo? Mesmo?
E quer ser prefeito?
Porque será que o vereador Custódio pediu que as doações fossem revistas quando o prefeito mandou os projetos para a Câmara no mês passado? Porque será que os vereadores tão loucos de vontade de ser prefeito também, como têm anunciado por aí, simplesmente fizeram que não entenderam esse assalto à mão armada o patrimônio público! Quê tipo de prefeito vocês querem ser? Do mesmo tipo muleta que precisou do prestígio de alguém para se eleger e que depois virou as costas para quem o apoiou e fecha os olhos para as prioridades da população? É assim que Paulínia pode contar com vocês?
A terra é pública
Se tivessem dúvida, não tivessem entendido o que está nas entrelinhas desse saque milionário ao patrimônio do povo paulinense, porque não abriram uma consulta pública? A terra é da cidade, é do povo. E o povo está precisando de casa, de creche, de postos de saúde, de postos de segurança, de emprego que não seja criado a custos irracionais. Tem cabimento morador de Paulínia ter de invadir terra em Americana junto com o MST enquanto a Prefeitura doa terreno de R$ 3,3 milhões para uma empresa recém-criada com R$ 50 mil de caixa? Faz sentido?
Circo de doações
A bagunça é tão grande nesse circo de doações, que a LG, que segundo o prefeito, ia começar a construir em janeiro deste ano, continua sendo apenas uma promessa de releases bem articulados divulgados pela imprensa. Porque não doam terras para sejam construídas casas com preços justos e o programa do governo federal, o Minha Casa Minha Vida, finalmente, possa funcionar e beneficiar a população de Paulínia que precisa? Afinal, não temos casas ou apartamentos que sejam vendidos a preços que se encaixam nos valores do programa. Na maioria dos imóveis a venda na cidade, o comprador precisa dar de entrada um valor altíssimo, que não condiz com a condição financeira de quem se encaixa no subsídio federal.
“Está tudo ok?”
Enquanto prefeito e vereadores ficam nessa de que “está tudo ok” com Paulínia, uma quadrilha encheu de medo as ruas da cidade com um tiroteio após roubar o banco Itaú esta semana. Aliás, tiroteio está virando coisa corriqueira dentro do governo “está tudo ok”. Na semana anterior, um rapaz morreu com vários tiros no meio da rua. E a onda de furtos de carros só está crescendo. Cadê o monitoramento com câmeras que o prefeito Edson Moura deixou pronto para ser implantado? A cidade precisa de segurança. Os comerciantes precisam de segurança. Paulínia precisa de segurança ou “está tudo ok” para vocês? Para mim não está, por isso, estou fazendo minhas malas e vou bater com essas denúncias lá em Brasília. É a presença da Polícia Federal que falta por aqui!
Pense mais
“O pensamento é o ensaio da ação” – Sigmund Freud