Inevitável: combustíveis estão muito defasados em relação aos preços internacionais, e aumento é certo

Oficialmente, o governo continua negando – mas o fato é que dificilmente vai conseguir segurar um reajuste de preços nos combustíveis, como quer a Petrobras. O assunto é mencionado frequentemente ora pelo governo, afastando a possibilidade, ora pela estatal, alertando para a necessidade. Entre um e outro, a certeza é que a palavra final será do mercado: a Petrobras não pode trabalhar indefinidamente com um valor defasado dos combustíveis, algo que vem fazendo há um bom tempo. Portanto, a sinalização é que haverá, sim um aumento.
Quando ele virá e de quanto ele será são atualmente os assuntos preferidos dos analistas que acompanham o mercado de petróleo. E se não há entre eles grandes divergências sobre o quando (provavelmente julho), ainda não há consenso em relação ao quanto – há quem fale em 10% e há quem fale em aposto no dobro disso: 20%.
De acordo com eles, o momento é bastante favorável para o aumento. Em primeiro lugar, há a inflação dando sinais de bom comportamento no geral. Em segundo, os preços dos alimentos tendem a cair ou se manter estável até julho, como tradicionalmente acontece nesse período do ano. E em terceiro, as eleições chegando em outubro – e aumentar os preços de qualquer coisa sob controle de governo do governo perto do pleito sempre tem um alto custo nas urnas. Somando tudo, chega-se à conclusão de que o melhor mesmo seria anunciar o reajuste agora.
Defasagem
Também não se pode ignorar a própria pressão dos preços de mercado sobre a Petrobras, que vem sentido no caixa o impacto do alto volume de importações de combustíveis. Com as refinarias trabalhando já a pleno vapor, a estatal não tem como produzir combustível suficiente para suprir o mercado, e tem que comprá-lo lá fora. E la fora, o preço é outro: só no primeiro trimestre do ano, a empresa teve um prejuízo estimado em R$7,8 bilhões na área de Refino justamente por causa dessas exportações.
Já com relação ao tamanho do aumento, a avaliação geral é que defasagem dos preços praticados no mercado interno da gasolina e do diesel em relação aos preços internacionais está em 40% e 50%, respectivamente. Ou seja, o ideal para a Petrobras seria um aumento desse tamanho – algo, porém, impensável para o governo, porque significaria um impacto de 0,83 ponto percentual no IPCA, índice oficial da inflação brasileira.
Por isso, a hipótese mais provável é de um reajuste bem mais modesto. Se os preços subirem 10%, o impacto na inflação sereia de 0,2 ponto – e de 0,4 ponto se a alta for de 20%. E como 20% é a defasagem média, é neste percentual que a Petrobras deverá bater, amparada em alguma redução da Cide (tributo que incide sobre combustível), para que o impacto não recaia totalmente sobre o bolso do consumidor. (RAC)