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Quem espera sempre aguarda por Sami Goldstein

Durante a primeira gravidez da minha esposa, um livro chamava minha atenção à cabeceira da cama. O título era “O que esperar quando você está esperando”. Em um breve descritivo pela Internet, o obra enfatiza que “com respostas tranquilizadoras aos futuros pais, O que esperar quando você está esperando é um guia completo para a gravidez, desde a fase do planejamento até o pós-parto.” Espera, respostas tranquilizadoras e futuro em uma mesma frase remetem-nos a uma profunda reflexão: estamos de fato tranquilos quanto ao futuro de nossos filhos ou simplesmente esperando que algo aconteça?

No começo do ano passado, iniciei minha série anual de colunas trazendo o tema dos “nem-nem”. Na oportunidade, dados então recém-lançados davam conta que, até o segundo trimestre de 2021, 30% dos jovens da faixa etária de até 29 anos faziam parte do grupo de pessoas que nem estudam nem trabalham. Um pouco mais adiante, em abril, trouxe um estudo global feito pelo Workmonitor, da consultoria Randstad, mostrando que quase dois em cada quatro profissionais das gerações mais jovens preferem ficar desempregados a permanecerem em um emprego de que não gostam. Já nesta semana, o Estadão traz à tona o crescente aumento da demissão voluntária. Segundo o jornal, cerca de 6,8 milhões de brasileiros pediram demissão de forma voluntária em 2022, um terço do total de desligamentos registrados no país. Em 2020, a demissão voluntária representava 25,7% do total. “Esse crescimento está em sintonia com uma tendência global que ganhou força nos últimos anos e ficou conhecida como a “grande renúncia”, o movimento de trabalhadores para deixar empregos de que não gostam.”, concluiu. Parece que só piora! O que esperar de tudo isso?

Talvez nesse verbo – esperar – resida o perigo. Aparentemente, estamos partindo do “o que esperar quando se está esperando” para o “quem espera sempre aguarda”. Um maléfico loop infinito de repetições da mesmice que vai pouco a pouco tolhendo o futuro de nossos jovens. Uma somatória de variáveis que nos levam a questionar se as previsões de Yuval Noah Harari, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, não se concretizarão. Em artigo publicado no The Guardian, intitulado O Significado da Vida em um Mundo sem Trabalho, o escritor comenta sobre uma nova classe de pessoas que deve surgir até 2050: a dos inúteis. “São pessoas que não serão apenas desempregadas, mas que não serão empregáveis”, diz o historiador. Não há mais o que esperar! Não temos tempo para mais inércia. Precisamos criar culturas de qualificação profissional e fazer nossos jovens compreender que a capacitação abrirá portas e mudará suas vidas. Esse é um papel coletivo: pais, escolas, iniciativa privada e, sobretudo, poder público. Esperar mais não trará qualquer outro resultado que simplesmente aguardar. Ou seja: nada! Dá pra ficar tranquilo?

Sami Goldstein – Empregado público federal e secretário de desenvolvimento econômico de Paulínia