O assassinato durante uma festa com temática partidária suscitou intensos debates durante a semana. Desde os mais cautelosos até os mais apaixonados, a veia de Sherlock Holmes ficou ainda mais aflorada. Os detetives da razão se apressaram a apresentar causas e circunstâncias. Os juízes togados em tribunais de redes sociais já sentenciaram. No fim das contas, o que menos pareceu importar foi a vida sendo perdida. O foco era atacar e atacar. A tragédia ficou ínfima ante a polarização ideológica que mais parece um putrefato vírus a assolar nossa nação. Mais do mesmo no circo Brasil em que o objetivo é ter algo para discursar.
É o tão conhecido “quanto pior, melhor” em sua versão piorada. A tragédia que tirou a vida vira mais uma arma apontada, desta vez ao oponente. O dedo em riste fere tanto quanto uma bala disparada, deixando chagas cada vez mais incuráveis. No fundo, o que vale é inflamar as multidões para se ganhar o jogo. Pessoas e vidas viram meros peões no nefasto tabuleiro eleitoral que muito diz e pouco pratica. Toda polarização é burra. Mas é reflexo de quem tem o poder de escolha ou não sabe o poder que tem. Nosso destino mais parece uma final de campeonato quando temas de fato relevantes são deixados de lado. Já disse anteriormente e repito: não há propostas sobre a mesa. Apenas ataques. A verdade é que, em meio à imbecilidade de tanta rivalidade, é a própria verdade a primeira e maior vítima. Ainda assistiremos muitas cenas de pessoas com fome, desempregadas, doentes e toda sorte de fatalidades. Ao mesmo tempo, pessoas “extremamente” preocupadas externando sua solidariedade a quem sofre. Apenas no discurso. Como lenha a alimentar a fogueira, este tipo abominável de política precisa destes elementos para subsistir. Não há construção da coisa própria; somente a desconstrução da causa alheia. Há alguns anos, em meio aos preparativos para uma campanha eleitoral das várias em que já participei, eu e mais alguns colegas propusemos a um candidato uma pauta propositiva. A velha política das brigas e desavenças já tinha passado e era momento de trazer o novo. Até que veio um marqueteiro e lhe vendeu a ideia da “demonização”. Era preciso demonizar o oponente, destilar todo o veneno e fomentar a bombástica discussão entre os seguidores. O resultado foi um só: baixaria e brigas. Exatamente o que estamos testemunhando hoje.
Isso não é política. É projeto de poder! A polarização não traz a verdade. Na realidade, deixa ainda mais dúvidas. E, como consequência, acabamos por optar pelo menos pior. Mas até mesmo o menos pior tem seu projeto de poder. Reaja, Brasil!