Na madrugada da segunda-feira, 20, uma explosão seguida de incêndio atingiu a Replan (Refinaria de Paulínia). O incidente ocorreu por volta da 1h na caldeiraria de craqueamento e destilamento. Equipes dos bombeiros, da Defesa Civil e uma brigada formada por empresas da região foram acionadas e as chamas foram controladas.
Por pouco, uma funcionária que estava no local há apenas sete minutos antes da explosão, não foi atingida. O sucateamento e a redução do efetivo operacional transformaram a Replan em uma bomba relógio, na iminência de uma tragédia, segundo o sindicato dos petroleiros. No final do ano passado, a refinaria realizou três paradas operacionais de emergência em menos de 30 dias.
Em relação ao acidente desta semana, o sindicato informou que “as chamas tiveram início após a explosão do tanque de águas ácidas, que fica no craqueamento – unidade que acabou de passar por parada de manutenção e sofreu uma série de intervenções em seus equipamentos”. As informações foram obtidas junto a funcionários.
Outro setor atingido foi a unidade de destilação, “causando o rompimento de várias linhas de tubulações”, informou o sindicato.
Por sorte, o acidente não teve vítimas, mas deixou os trabalhadores em pânico. Havia cerca de 50 empregados trabalhando nas unidades afetadas No momento da explosão, eles estavam jantando no restaurante da empresa.
Moradores de Paulínia relataram terem sentido um grande tremor. Segundo eles, a primeira explosão foi contínua e durou cerca de 30 segundos, seguidas de outras 3 explosões.
Ameaça constante
Considerado por muitos trabalhadores como o mais grave da história da Petrobrás, o acidente ocorreu nove meses após a reversão na unidade de craqueamento, que lançou na atmosfera uma nuvem gigantesca com alto grau de explosividade. Foi outro acidente perigoso e que assustou os petroleiros e a comunidade no entorno da refinaria.
“Os trabalhadores da Replan estão sob ameaça constante, com a falta de segurança e o descaso da atual gestão da Petrobrás. Tudo isso é resultado da política de desmonte da empresa, que vem sendo sucateada e transformou a refinaria em uma bomba relógio, na iminência de uma grande tragédia”, declara o diretor do Unificado Gustavo Marsaioli.
Incêndio paralisou a maior refinaria da Petrobras
A Replan é a maior refinaria da Petrobras em capacidade de processamento de petróleo, com produção correspondente a aproximadamente 20% de todo o refino de petróleo no Brasil, o equivalente a 434 mil barris, de acordo com informações no site da empresa.
Com o incêndio da última segunda-feira, toda produção da unidade ficou parada. De acordo com informações do jornal O Globo, nos cálculos da XP Investimentos, a Petrobras terá um prejuízo de cerca de R$ 100 milhões por cada dia de paralisação da refinaria.
A Petrobras confirmou nesta quinta-feira, 23, que a Replan prepara a retomada de 50% da capacidade de produzir derivados de petróleo, por meio de unidades que não foram prejudicadas pela explosão registrada na madrugada de segunda-feira.
Segundo a empresa, a entrega de produtos às distribuidoras foi retomada no dia 21. Porém, segundo a estatal, ainda não é possível prever o retorno à operação das unidades afetadas.
Direito à vida
Em ato na porta da Replan, petroleiros exigem segurança
Segurança foi o tema central do ato em defesa da vida, realizado na manhã de ontem, 24, pelo Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado-SP), em frente à portaria de acesso da Replan (Refinaria de Paulínia). A mobilização atrasou em duas horas o início do expediente do turno e do setor administrativo e reuniu cerca de 300 trabalhadores.
As vans e ônibus fretados que chegavam paravam na entrada da refinaria e os diretores do Sindicato convidavam os trabalhadores a aderir ao movimento. Houve muitas críticas aos petroleiros que não se dispuseram a acompanhar o ato, inclusive dos próprios colegas de trabalho.
“A refinaria teve quatro paradas em um ano. Estamos em um caminho que, estatisticamente, vai levar a um acidente fatal. Nessa última ocorrência, escapamos por um milagre. Se o tanque de águas ácidas tivesse caído um pouco mais para à esquerda ou direita, provavelmente não estaríamos aqui hoje”, declarou o diretor do Unificado Arthur Bob Ragusa.
Nacional
Várias refinarias do país fizeram mobilizações no dia de hoje. A FUP (Federação Única dos Petroleiros) e seus sindicatos realizaram um dia nacional de protestos por segurança, mais investimentos em manutenção e recomposição dos efetivos no Sistema Petrobrás.
Rio Atibaia recebeu barreiras de contenção
Após o incêndio, o Rio Atibaia recebeu barreiras de contenção nas proximidades de uma das estações de captação. A medida foi tomada depois que Companhia Ambiental do estado (Cetesb) confirmou que o manancial recebeu parte da água usada durante rescaldo do incêndio. O objetivo da medida, segundo a agência, foi monitorar a qualidade da água e evitar que o abastecimento da população de Sumaré seja comprometido.
As estruturas foram colocadas na área de uma estação de Paulínia onde são captados 70% do volume usado pelos moradores de Sumaré. A água é analisada a cada 30 minutos, e por enquanto não foi identificada substância que possa afetar o rio. As barreiras foram colocadas por funcionários da concessionária BRK, em conjunto com a refinaria.
A Petrobras informou que o óleo não atingiu o Rio Atibaia. O material queimado ficou contido na refinaria, e o restante foi recolhido. Funcionários da Replan acompanham trabalhos no manancial.
Outro lado
A Petrobras informou que não estima impactos financeiros relevantes, mesmo com os remanejamentos da produção de outras refinarias, reforma das unidades atingidas e eventual importação de derivados, se necessária. Segundo a estatal, foi criada uma comissão interna que está investigando as possíveis causas do acidente. “Fatos julgados relevantes sobre o tema serão divulgados à imprensa e ao mercado”, disse.