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Forró é reconhecido como patrimônio imaterial e Paulínia deve preparar leis de fomento ao ritmo

Casal de forrozeiros esbanja alegria em evento realizado em Paulínia, antes da pandemia

Com o reconhecimento oficial, fica mais fácil receber recursos, promover eventos e até tirar do papel o tão sonhado CTN

Por Silvânia Silva

Que o forró foi reconhecido como Patrimônio Imaterial do Brasil, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), você bom forrozeiro que é, já sabe! Mas o que isso significa na prática? O que muda na realidade?

Uma coisa é certa, há anos esperamos reconhecimento e esse título, mais que merecido, veio como um belo presente, quatro dias antes da comemoração do Dia do Forró, celebrado anualmente no dia 13 de dezembro, dia do nascimento de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que nasceu em 1912.

A decisão de declarar o forró como patrimônio imaterial brasileiro aconteceu por unanimidade, no dia 9 de dezembro de 2021, após dez anos da abertura do processo. A definição ocorreu em reunião extraordinária do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural da entidade, o qual também considerou a expressão musical como supergênero, por agrupar ritmos e expressões musicais como o baião, xote, xaxado, chamego, miudinho, a quadrilha e o arrasta-pé.

“Manifesto-me plenamente favorável ao registro pelo Iphan das matrizes tradicionais do forró, munidas das formas de expressão com abrangência nacional”, afirmou a relatora do processo na entidade, Maria Cecília Londres Fonseca.

O Iphan iniciou uma pesquisa nos nove estados do Nordeste, além do Distrito Federal, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo para entender e identificar como se expressa o supergênero musical.

Em seguida, também houve pesquisa nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, com a identificação de festivais sobre a expressão musical. Segundo Maria Cecília Londres Fonseca, esse pedido foi antecedido por intensa mobilização de diferentes atores.

O que isso muda na prática?

O secretário municipal de Cultura de Paulínia, Dinmer Teles, foi um desses agentes, participando de reuniões, além de ter proximidade com o ritmo, já que construiu sua carreira como professor de dança e coreógrafo, por anos na cidade. Perguntamos ao Dinmer: “E agora, o que muda para o forró na prática? O que muda oficialmente? Ele esclareceu que a princípio, apenas a exposição na mídia já é considerável, em curto prazo, porque exalta o nome e a ideia. Já, como próximo passo, considera a promoção de articulações oficiais para pleitear recursos para a promoção do ritmo em Paulínia, o que deve possibilitar até a criação do CTN (Centro de Tradições Nordestinas), que já é previsto para a cidade, que também tem o Dia Municipal do Nordestino, no calendário Oficial.

“Agora que existe essa chancela, conquistar recursos fica mais fácil, mas importante ressaltar que ainda precisamos de regulamentações municipais e decretos para justificar a utilização desses recursos nos projetos. Nós, agentes de fomento do ritmo, já podemos comemorar sim, mas precisamos de união para quem sabe em 2022 possamos garantir comemorações no Dia Nacional do Forró”, explica o secretário.

Já o reconhecimento popular foi ressaltado pelo diretor de teatro, agitador cultural e integrante do Trio Os Carraras, Thiago Silva. “Este reconhecimento se faz importante, sobretudo porque o forró pertence à cultura popular. A população consegue se ver, se sentir representada quando se reconhece produtora de Cultura. Com essa valorização, distâncias entre o popular e o erudito são rompidas, assim como esperamos a elaboração de políticas públicas que fomentem e valorizem o artista popular e o seu povo”, analisa o artista.

História do forró

De acordo com a relatora do processo, “a pesquisa aponta que a primeira menção à palavra forró foi localizada em um jornal amazonense de 1914, referiu-se a seringueiros cearenses possivelmente em suas atividades festivas”.
No documento oficial, constam a história dos pioneiros Luiz Gonzaga, que popularizou o ritmo, e Carmélia Alves, a rainha do baião, que já tocava forró para as elites. A primeira geração deu continuidade ao forró pé de serra desde os anos 1950 com Dominguinhos, Marinês, Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda e Pedro Sertanejo.
A segunda geração se divide em duas fases, com Alceu Valença, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Gilberto Gil, Jorge de Altinho e Nando Cordel, e, na segunda fase do Forró Universitário, Falamansa, Rastapé e Forróçacana.
E finaliza com a terceira geração do forró eletrônico, com Mastruz com Leite, Calcinha Preta, Magníficos e Aviões do Forró.

Forrobodó ou For All
Uma das polêmicas do forró é sobre a origem do nome. Tem a versão gringa e a roots. Mas a pesquisa também identificou que o mais provável é que a palavra forró venha do termo forrobodó. E não do “for all”, que teria vindo da tradução “para todos”, das festas dos trabalhadores estadusinidenses no Nordeste, no início do século XX.

Segundo Maria Cecília, o termo forrobodó já era utilizado em dicionários desde o fim do século XIX como atendendo a práticas pejorativas.

Que o forró já foi marginalizado, “coisa de Paraíba” e pobre, a gente sempre soube. Agora, com tamanho reconhecimento, esperamos mais fomento, eventos oficiais, incentivos e inclusão de festas nos calendários de vários municípios brasileiros, não apenas nas festas juninas. Esse é o desejo dessa jornalista forrozeira, que vos escreve.