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Hora de aprender a fazer contas por Sami Goldstein

Imagine que o cenário atual seja uma grande equação na qual jogaremos algumas variáveis. A primeira delas é a pesquisa realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em agosto deste ano que mostra que um a cada 4 brasileiros não consegue pagar todas as suas contas do mês. Outros 44% estão apertados: pagam as contas, mas não sobra dinheiro. A segunda é um pouco mais recente: apenas 5% dos estudantes terminam o ensino médio da rede pública com aprendizado considerado adequado em matemática, segundo estudo feito com base nos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2021. Em 16 estados brasileiros, não se chega nem a esse percentual. A terceira são as palavras de Leonardo Grapeia, CEO da Focus Financeira, à Exame no artigo intitulado “Falta de educação financeira aumenta desigualdade em era de instabilidade”. Segundo ele, “no Brasil, ensino religioso e química orgânica fazem parte do currículo escolar obrigatório, mas as finanças básicas, por exemplo, não. Juros e porcentagem são distantes para a maioria dos brasileiros. Por conta da ignorância financeira perpetuada em nosso país, é fácil compreender como tanta gente assume dívidas impagáveis, comprometendo seu futuro financeiro. A maioria ignora o efeito brutal dos juros compostos, presentes nas dívidas do cartão de crédito e do cheque especial, por exemplo. Endividados pouco se atentam às decisões políticas que os afetam, uma vez que sua atenção está voltada aos inúmeros boletos e contas acumuladas.”

Dadas as variáveis, vamos resolver a equação. Estamos literalmente diante do caso em que a ordem dos fatores não altera o produto. Até porque a resolução é muito simples: desastre total. O brasileiro não conhece suas contas, não sabe fazer contas e se perde nas contas. E é pra essa massa que estamos falando de responsabilidade fiscal, teto de gastos, PEC da Transição e tantos outros jargões veiculados incessantemente nas últimas semanas. Temos a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101/2000) que há mais de 20 anos entrou em vigor e estabelece um conjunto de normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, mediante ações para prevenir riscos e corrigir desvios que possam afetar o equilíbrio das contas públicas. Quatro são suas premissas básicas: o planejamento, o controle, a transparência e a responsabilização. E mesmo assim, tudo isso ainda não passa de uma indigesta sopa de letrinhas que causa muito impacto visual e pouco efeito prático em uma população que, em sua maioria, não sabe fazer contas.

Seguimos na vibe de torcidas organizadas de prós e contras enquanto números não mentem. Já dizia o ditado “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”. É hora de prudência. É hora de termos foco. Responsabilidade fiscal não passa da velha receita caseira: não se pode gastar mais do que se recebe. Sem equilíbrio financeiro, nenhuma família se mantém, nenhuma empresa se sustenta. Mas, para isso, é preciso encontrar uma solução definitiva para a equação acima. É hora de aprender a fazer contas!

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