Sami Goldstein
Nas últimas seis semanas, impossível não termos pelo menos uma vez ouvido a respeito do processo envolvendo a atriz Amber Heard e seu ex-marido, o ator Johnny Depp. O julgamento, acompanhado de perto nas redes sociais e transmitido ao vivo na televisão e na Internet, moveu opiniões e transformou a situação particular de um casal em um verdadeiro espetáculo. Para quem ainda não estiver familiarizado com a situação, tudo começou com uma coluna publicada no jornal Washington Post em 2018, na qual a atriz se definia como “uma figura pública que representa a violência doméstica”. A atriz não mencionou Johnny Depp no texto, mas seu ex-marido pediu no processo por difamação 50 milhões de dólares em danos, afirmando que a declaração destruiu sua carreira e reputação. Nesta última quarta-feira 1/6, os sete jurados – cinco homens e duas mulheres – sentenciaram Amber Heard por difamação e a atriz foi condenada a pagar 10,35 milhões de dólares a seu ex-marido. O júri também considerou que Amber Heard agiu com “malícia”, indicando convicção de que a artista fez declarações sabendo que eram falsas.
O caso, além de opiniões, moveu também paixões. Principalmente a partir de 2020 quando vazou um áudio em que a atriz teria dito a seu marido algo como ““diga para o mundo, Johnny, conte para todos… ‘Eu, Johnny Depp, um homem, também sou uma vítima de violência doméstica’. Veja quantas pessoas vão acreditar ou estarão do seu lado”. A partir daí o enredo dos debates atravessou os muros e passou para direitos de homens e mulheres, violência doméstica, etc. Não entrarei nesse mérito e nem esse é o objetivo da minha coluna. Confesso que não tenho elementos para ponderar sobre o ocorrido assim como boa parte dos que acompanharam o caso. Podemos conjecturar sobre quem tem a razão ou os melhores advogados e continuaremos a andar em círculos. Quero hoje analisar como tudo começou: uma simples coluna com algumas palavras expondo outra pessoa sem qualquer prova.
Palavras ao vento são flechas contra um peito. Johnny X Amber acontece todo dia com menos holofotes, mas com igual potencial devastador. Não sei quem tem a razão. Não sei se alguém tem a razão. Mas certamente quem expõe outrem perde a razão. Principalmente nas redes sociais, as quais muitos ainda acreditam ser uma terra sem lei, pessoas, fatos e situações são expostos ao crivo público sem qualquer medida ou lisura. Na maioria das vezes, aproveitadores de ocasião querendo capitalizar alguns minutos de fama às custas da vida alheia. Costuma-se dizer que quem opta pela vida pública já sabe de antemão que será exposto, mas o que vemos é um exagero sem comparação. Fatos que nada têm a ver com o exercício de suas funções são misturados no mesmo caldeirão e lançados para além dos limites da razoabilidade. Quando isso ocorrer, antes de mais nada, faça a si mesmo duas simples perguntas: você já ouviu o outro lado? E: isso vai mudar algo em sua vida?