Sami Goldstein
Enquanto o cenário político vai afunilando, voltamos ao questionamento que já virou regra neste processo eleitoral: cadê as propostas? Aqui mesmo nestas linhas já discorremos sobre o tema. Estamos como que vendados dentro de um túnel escuro, ao mesmo tempo em que nos é posto o dilema da briga do bem contra o mal. Projetos? Ainda não vi. Ataques? Sobram. O picadeiro incendiado vira cortina de fumaça para ocultar os verdadeiros obstáculos que temos pela frente. A democracia é bela por permitir o debate, porém quando ele se resume a pessoas e não ideias, o rumo precisa ser corrigido. O Brasil tem temas sérios a serem tratados que prevalecem sobre “quem está certo ou quem está errado”.
O Valor Econômico desta terça-feira, 02/08, trouxe, sob o título “Sob pressão, ensino superior privado debate seu futuro”, os seguintes dados: “com o conhecimento mudando em ritmo acelerado, o ensino superior está sendo pressionado em várias frentes, levando o setor a debater o seu futuro. Há demandas de alunos por novos formatos de aprendizado, empresas de outras áreas entrando no mercado de educação, a tecnologia jogando para baixo o valor das mensalidades, ativos como campi perdendo valor, empregadores dispensando diplomas de ensino superior e o ensino técnico ganhando espaço.” O texto vai além: “no Brasil e em vários outros países, as mudanças no ensino superior estão sendo demandadas pela necessidade de formar um aluno mais atualizado à realidade do mercado de trabalho, com capacidade cognitiva para aprender rápido e provido de habilidades socioemocionais. Mas a maior parte das faculdades não consegue entregar esse aluno após quatro ou cinco anos de formação.” Na sequência, dá conta que “empregadores estão capacitando seus funcionários e empresas de outros setores criando suas próprias faculdades com novos modelos pedagógicos, abrindo concorrência às instituições de ensino superior.” Por fim, a óbvia conclusão: “muitos estudantes escolhem essas escolas porque vislumbram um emprego numa das empresas patrocinadoras. Estas, por sua vez, buscam mão de obra qualificada.”
Quais as propostas para reindustrializarmos o país, preparando o Brasil para um futuro cada vez mais tecnológico? Quais os projetos de políticas públicas de qualificação profissional para o mercado de trabalho e capacitação para o fomento do empreendedorismo? Quais iniciativas serão tomadas para diminuir a cadeia tributária que aprisiona toda a cadeia produtiva literalmente em uma cadeia? Nossos reais problemas vão muito além do bem e do mal. Óbvio!