Escrevo estas linhas numa chuvosa manhã de quarta-feira. É feriado no Brasil, 7 de setembro. Data tradicionalmente marcada pelo afloramento de um espírito cívico que coincidentemente permanece adormecido nos demais 364 dias do ano para boa parte da população. Exceto, claro, em ano de Copa do Mundo. Lendo os jornais ou assistindo televisão, o assunto é o mesmo. O mesmo que, todo ano, é diferente: a celebração de nossa independência. Independência?
Lembro-me de, quando criança, visitar o Museu do Ipiranga e me deparar com o quadro de Pedro Américo. “Independência ou Morte” enche os olhos de quem o observa, mesmo que ponderemos sobre as reais circunstâncias do episódio, seja pelas condições gástricas do regente, seja pela gigantesca cifra que o Brasil teve de pagar a Portugal pelo ato. Fato é que nossa independência ficou num grito, seja lá como tenha acontecido. Nada além disso. O país estava em crise, endividado e a independência servia bem aos propósitos de uma elite cuja relação com a Coroa estava desgastada. Não houve uma transformação política e muito menos social, tanto que a abolição da escravatura só viria 66 anos depois e, ainda assim, cercada de interesses. Independência fake. Independência que foi sequestrada desde sua proclamação.
Nunca fomos independentes. Passados duzentos anos, o Brasil ainda se vê preso a um histórico de mascate de matéria prima acompanhado de um contínuo e desgastante processo de desindustrialização. Um país essencialmente assistencialista que prende seus cidadãos na falta de qualificação profissional. A discussão não é sobre quem é de direita ou esquerda. A discussão é se vamos para frente ou continuar dando à ré na história. O Brasil é mais e pode ser mais. Quem sabe nos próximos cem anos.