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Passaporte da polêmica

Sami Goldstein

Seja sincero: você realmente acreditou que terminaríamos este ano sem ao menos uma boa polêmica para a noite de Natal? Como não poderia deixar de ser, vamos nos aproximando dos momentos finais de 2021 com mais uma boa discussão: o passaporte vacinal. O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria de votos nesta quarta-feira (15) a favor de manter a decisão do ministro Luís Roberto Barroso que determinou a obrigatoriedade do chamado passaporte da vacina para viajantes que chegarem ao país. A maioria dos ministros acompanhou o voto de Barroso, mantendo a exigência do passaporte, mas estabelecendo que brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil que viajaram para o exterior após 14 de dezembro e, ao retornar, não apresentarem comprovante de vacinação deverão comprovar o teste negativo de Covid-19 e fazer quarentena de 5 dias, que somente se encerrará com novo teste negativo. Importante lembrar que a exigência do passaporte da vacina foi proposta pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ao governo federal. Naquela ocasião, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a Anvisa queria “fechar o espaço aéreo”, e chamou o passaporte de “coleira”. Mais lenha na já caliente fogueira das picuinhas.

Consegue imaginar o tamanho do debate durante a ceia? Para se ter ideia da dimensão da polêmica, basta analisar os números de uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ela mostra que 65% dos brasileiros são favoráveis à exigência do comprovante. Segundo o levantamento, divulgado nesta terça-feira (14), essa parcela da população considera que os estabelecimentos comerciais e outros lugares devem exigir o certificado como condição para os clientes frequentarem os mesmos. Apenas 22% são contra essa prática. Os dados da pesquisa com 2.016 entrevistados mostram que, no entanto, a exigência ainda não está disseminada no País. Somente 18% dos entrevistados tiveram de comprovar a vacinação em algum dos lugares que frequentaram nos últimos três meses. Para a microbiologista Natalia Pasternak, “a gente tem diversos filtros que a gente pode institucionalizar para diminuir o contágio e manter a população mais protegida, e a vacina é um deles. E o passaporte de vacina é o mais importante desses filtros.”.

Por que tudo é tão complicado neste país? E por que complicamos ainda mais o que já é complicado? Em que momento da história recente deixamos nosso cérebro pelo caminho e perdemos nosso senso coletivo de sobrevivência? Deveríamos aprender com o vírus a mudar nossa forma e lutar pela sobrevivência em vez de sermos o hospedeiro perfeito arranjando confusão em meio ao caos. Estamos em meio a uma pandemia ainda sem solução, com números piorando lá fora e com alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) que a nova variante ômicron do coronavírus está se espalhando a um ritmo sem precedentes, apelando para que países adotem ações para conter a disseminação. E mesmo em meio a esse cenário, estamos polemizando com a comprovação da vacinação? Saímos de epicentro da pandemia para exemplo de superação, mas ainda discutimos por besteiras? O pior de tudo é a certeza: quando acabar essa polêmica, inventaremos outra. Ainda bem que o ano está acabando, assim deixamos o estoque de discussões para o ano que vem.