Texto: Vera Leão
Foto: Edgar Castellón
Nesta quarta-feira, dia 17, os moradores da antiga granja Coave foram retirados de suas casas sob forte aparato policial, que contou inclusive com o helicóptero Águia da Polícia Militar. Ao todo 62 famílias, cerca de 190 pessoas, foram retiradas da área localizada entre Paulínia, Americana e Cosmópolis. A PM que atua em Paulínia não participou da ação, mas ficou próximo ao local para garantir o cumprimento da ordem judicial expedida pela Justiça do Trabalho de Paulínia para reintegração de posse. O terreno, de 700 mil metros quadrados, foi transferido para os ex-funcionários da granja como indenização por uma ação trabalhista movida por eles.
A moradora da granja, Maria Aparecida Reinaldo, 51, que há cinco anos mora no local, contou que os policiais chegaram às 6h20 da manhã e todos começaram a arrumar suas coisas, por volta das 11h30 da noite todos já haviam saído e uma máquina retro-escavadeira ainda derrubava os barracões. “Nessa hora estava chovendo, muitos moradores estavam debaixo de chuva com crianças e idosos. Foi tudo muito triste”, contou Maria que morava com outra família (também despejada). Sobre sua própria vida, contou que não tem marido e sofre de um grave problema de saúde, a “incontinência urinária”, o que para ela, é fonte de constrangimento e dificuldade social. O problema surgiu devido a um erro médico durante uma cirurgia realizada no Hospital Municipal de Paulínia, além de ser também uma pessoa depressiva. “Eu morava de aluguel no bairro Vila Nunes, depois que os médicos me deixaram “inútil”, não tenho como trabalhar. Urino o tempo todo, sem controle, usa fraldas, fico em casa o tempo todo. Já passei por três cirurgias para tentar consertar o erro, mas continuo com a dificuldade”, desabafou.
De acordo com ela, caminhões da Prefeitura de Cosmópolis deslocaram moradores e móveis para vários locais de Paulínia, inclusive ela. Agora está numa casa abandonada, próximo a Churrascaria Planalto, na área da Replan (Refinaria do Planalto). “Nesta casa onde estamos não tem água, nem luz, nem janelas e portas, o chão não tem contra-piso. Somos quatro famílias aqui, e tem crianças também”. Ela contou ainda que no dia da desocupação, a secretária da Promoção Social da Prefeitura de Paulínia, Ilda Orággio, esteve no local, pegou o nome de algumas pessoas e disse que vai tentar fazer alguma coisa, mas até o momento da entrevista, nada havia sido feito pela Prefeitura. “Nós votamos em Paulínia, somos cidadãs desta cidade, alguém tem que fazer alguma coisa por nós”, disse revoltada com a situação.
Em janeiro de 2009, logo que assumiu a prefeitura de Paulínia, o prefeito José Pavan Junior (DEM), acompanhado do Secretário de Segurança Pública de Paulínia, Coronel Ronaldo Furtado, do Diretor de Segurança, Fábio Feldmann e do advogado Pedro Politano, se reuniram com o prefeito de Americana, Diego De Nadai (PSDB) para buscar uma solução para o problema. Na época, De Nadai pediu a seus assessores que fizessem um mapeamento das necessidades das famílias. Pavan pediu aos moradores um pouco de paciência e disse que tomaria todas as medidas possíveis para garantir os direitos das famílias, que na maioria pertencem a Paulínia.
Em nota exclusiva para este jornal, a Assessoria de Imprensa, da Prefeitura de Paulínia informou que o prefeito José Pavan Junior não vai se pronunciar sobre a reintegração de posse da Granja Coave. Informou também que a Secretaria de Promoção e Desenvolvimento Social (Seprodes) de Paulínia realizou quinta-feira, dia 18, o cadastramento de 27 famílias que procuraram o Paço Municipal. Ainda de acordo com a nota, os moradores irão apresentar uma pauta com reivindicações ao prefeito, nesta próxima segunda-feira, dia 22.
A maioria das famílias estão cadastradas no Programa de Ação social (PAS) do município.