Imagine estar com um câncer maligno, com riscos de a doença se espalhar para diversos órgãos do seu corpo, e ter a cirurgia de remoção do tumor cancelada porque o ar-condicionado do Centro Cirúrgico está quebrado. A situação é de vida ou morte. O PM (Polícia Militar) aposentado Luiz Roberto de Lima, 56 anos, desde terça-feira, 8, vive esse drama.
Lima foi até o HMP (Hospital Municipal de Paulínia) para retirar o tumor de sua próstata, que já chegou em seu fígado. No entanto, uma enfermeira do Departamento da Saúde do Homem o informou que o procedimento, urgente, não poderia ser feito pelo fato de os equipamentos de ar-condicionado estarem quebrados. “Trabalhei por 28 anos como policial, cuidando da sociedade e agora estou passando por essa situação. É muito triste”, afirmou.
O câncer de Lima foi descoberto em novembro do ano passado, após o aposentado, que entrou na reserva como 3º Sargento, começar a sentir fortes dores na região da bexiga e fazer exames, em clínicas particulares, já que em Paulínia os procedimentos para detectar a doença, como biópsias, não estão sendo realizados há dois meses.
Em 2018, a rede de saúde teve problemas para fazer os procedimentos de biópsias nos meses de julho e agosto, mas a situação foi regularizada. Um novo contrato estava em andamento com o Laboratório Menezes, mas o prefeito interino Du Cazellato (PSDB) suspendeu tudo assim que tomou posse, em novembro do ano passado. Agora, quem está com câncer em Paulínia não tem como descobrir que está com a enfermidade, e muito menos fazer uma operação para retirar o tumor.
Cancelamentos
Por conta de os equipamentos de ar-condicionado não estarem funcionando, ao menos duas cirurgias em pessoas com câncer foram canceladas, incluindo o procedimento que deveria ter sido feito em Lima. Outras 19 cirurgias, por conta de outros problemas de saúde, também foram canceladas, conforme apurou a reportagem.
O médico coordenador Departamento de Oncologia da Puc-Campinas, André Sasse, explicou que a demora para fazer cirurgias em pacientes com câncer pode fazer com que a doença se torne incurável, resultando na morte do paciente. Ele também relatou que tal situação de espera costuma fragilizar emocionalmente o paciente. “O atraso para começar um tratamento adequado de câncer pode acarretar no crescimento do tumor e na impossibilidade de cura”, afirmou o especialista.
Sem comando
Outro problema que gera preocupação na secretaria de Saúde de Paulínia é o fato de o setor estar sem comando desde que Cazellato assumiu o cargo de prefeito interino, já que até agora ninguém foi nomeado para ser o secretário. Também de forma interina, Tania Mara Cunha Romano Capelini responde pela pasta. Servidores de carreira do setor relatam que a falta de secretário faz com que políticas públicas, licitações e contratos fiquem “sem rumo” e “abandonados”.
Outro lado
Em nota, Cazellato informou por meio de sua Assessoria de Imprensa que as cirurgias de pessoas com câncer estão sendo realizadas, o que entra em conflito com a situação contada por Lima. Nenhuma explicação sobre o cancelamento do procedimento que deveria ser realizado em Lima foi passada à reportagem.
Foi informado que foram realizadas 58 operações no Centro Cirúrgico e outras 58 cirurgias no Ambulatório. Ainda foi comunicado que os equipamentos de ar-condicionado estão sendo consertados, por uma empresa contratada, e que em uma semana o trabalho estará pronto. Assim, os procedimentos serão retomados. Sobre o fato de a pasta de Saúde estar sem secretário há dois meses, nada foi informado.
Por fim, a assessoria informou que as cirurgias foram canceladas para evitar problemas de climatização nos pacientes. FONTE: PORTAL ZATUM NOTÍCIAS