Início Destaques Professores de Paulínia são “atacados” com bombas durante Assembleia

Professores de Paulínia são “atacados” com bombas durante Assembleia

Comissão independente discutia o funcionamento das Creches municipais durante o período de recesso e sobre possível paralização; um professor foi agredido


“Foi um verdadeiro terror, mas não vamos nos intimidar”. Assim resumiu uma professora ao falar sobre a Assembleia realizada pela Comissão Independente dos Profissionais de Educação de Paulínia na noite de segunda-feira (2), no Centro Comunitário Nossa Senhora Aparecida. Segundo os participantes, cerca de 30 homens foram ao local e alguns deles jogaram bombas dentro do salão onde acontecia o encontro.
A Assembleia Geral foi agendada para discutir assuntos da categoria, entre eles, o funcionamento das Creches durante o período de recesso, a falta de condições de trabalho, fim das horas extras, direito ao recesso, requerimentos ao Ministério Público e possível paralização. De acordo com relatos dos participantes, por volta das 18h15, quando os profissionais começavam a chegar, cerca de dez homens desconhecidos entraram no salão e pelo menos outros 20 aguardaram do lado de fora. Sem responder perguntas de “quem eram” e de “qual creche trabalhavam”, os indivíduos começaram a jogar bombas 1000 em direção aos profissionais que já estavam posicionados dentro do salão. “Nossa reação foi correr. Cada um fez o que pode, corremos para traz do prédio, outros se esconderam no banheiro, alguns saíram pela lateral em direção ao gramado. Pensamos que era tiro ou rojão, porque os estouros eram um atrás do outro. Foram pelo menos umas 15 bombas”, disse uma professora que, com medo, não quis se identificar.
No momento do “ataque”, outros profissionais estacionavam seus carros e alguns chegavam a pé e viram a ação dos criminosos. “Eu estava do outro lado da rua e vi aquele grupo de homens, mas pensei que fossem professores porque eu não conheço todo mundo. Só me dei conta do que estava acontecendo quando ouvi o barulho e o pessoal gritando lá dentro”, disse R.
Um professor tentou segurar um dos homens, mas disse que foi agredido e ele fugiu. “Nesse momento, pelo menos uns 8 vieram pra cima de mim com socos e chutes”.

Uma das bombas não estourou

Com os marginais ainda dentro do recinto, uma professora tentou ligar para polícia, mas, segundo ela, nenhum dos celulares dela e de suas amigas funcionaram, como se houvesse algum equipamento para interferir na frequência, mas os vizinhos conseguiram acionar a Guarda Municipal e a Polícia Militar, que fizeram a segurança do local enquanto a comissão realizava a reunião.
“Isso tudo só nos mostrou que temos força, independente do Sindicato, e que com certeza estamos incomodando alguém. Não sabendo ainda quem e nem o motivo, mas não vamos nos intimidar, vamos continuar com nosso movimento, com nossas Assembleias para fazer valer nosso direito. Quem mandou fazer isso, perdeu tempo, porque isso só nos uniu e nos fortaleceu ainda mais”, disse G.
Em pauta

De acordo com a advogada que representa a comissão, Dra. Eliana Lucia Ferreira, a Assembleia foi realizada pela Comissão Independente e não tem relação com o Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Paulínia (STSPMP). “Formamos um grupo e viemos aqui discutir o interesse de vocês. Concordamos que as Creches funcionem durante o recesso, isso é determinação do Ministério Público, mas também temos o direito constituído aos 15 dias de descanso remunerado e queremos que a Prefeitura cumpra a Constituição Federal, que eles reconsiderem e revoguem essa portaria para que vocês tenham o direito ao recesso porque precisam se recompor fisicamente e psicologicamente”.

Votação que decidiu sobre o fim das horas extras

Segundo uma professora, hoje, as professoras que atuam nas Creches Municipais trabalham sob pressão. “Eu amo o meu trabalho, mas não temos condições de trabalhar como deveria ser. Cada turma tem no mínimo 10 crianças, quando deveria ser no máximo 6 para cada professora. Já não damos conta durante o período normal, imagina no recesso, que algumas professoras não virão trabalhar para assegurar seu direito e quem for trabalhar vai ter que ficar com duas turmas”, ressalta F.
A professora A. vai além. “Eu tenho ciência que vou ficar com duas turmas sozinha, que dá mais ou menos 20 crianças. Mas estou alertando os pais, porque falar com a Prefeitura não adianta: trazer criança na creche durante o período de recesso nessas condições, sem pessoal de apoio ou até pessoal para trabalhar temporariamente é expor ao risco e a responsabilidade cairá sobre nós”.
Outro assunto discutido e votado no encontro foi que a partir do dia seguinte à Assembleia, dia 3, os professores não fariam mais hora extra e um requerimento seria protocolado na Prefeitura, na Secretaria da Criança e do Adolescente e no Conselho Tutelar. “Estamos pedindo uma reunião com o Ministério Público para tentar reverter essa situação aqui em Paulínia. Pode demorar, com certeza não será agora, pode ser que vários ‘julhos e dezembros’ se passem até conseguirmos, mas não vamos desistir”.
A possibilidade de uma paralização também foi discutida.  “Faremos tudo dentro da Lei e com calma. Se vocês acharem que devem fazer greve, façam, é uma opção, mas precisamos fazer tudo com legalidade, protocolar os papeis, esperar ser publicado e só depois de 72 horas da publicação é que podemos parar. Esses são os trâmites legais”, disse a advogada.
“Só queremos trabalhar com dignidade. Não estamos nos negando a trabalhar, mas a Prefeitura poderia, pelo menos, contratar um pessoal temporário para nos ajudar nesse período, para que as professoras possam revezar o recesso. É muita criança, as creches estão superlotadas, não pode continuar assim”, finalizou L.
A comissão  vai agendar um novo encontro para comentar o andamento das ações.