
Não há um adulto que não tenha, pelo menos uma vez na vida, escutado a história dos três porquinhos. E obviamente criado uma severa antipatia pelo lobo mau. Afinal, lá estavam os porquinhos em seus lares e o lobo atazanando suas vidas. Inúmeras são as lições que o secular conto traz. Em basicamente todas, o lobo é o perverso. Com o passar do tempo, descobrimos que a fábula nos ensina muito sobre empreendedorismo e inovação. Afinal, para descobrir a solidez e segurança do tijolo, os porquinhos precisaram passar pela iniciativa, projeto, decisão, concretização, teste e validação da palha e da madeira. Basicamente uma incubação. Sem dúvida alguma o lobo teve papel preponderante nesse processo. Tudo, portanto, é questão de perspectiva. O famoso copo meio cheio ou meio vazio. É exatamente esse o impacto que a inovação traz. Para uns, o avanço. Para outros, um inimigo a ser combatido. Para todos, um enorme desafio.
Duas fotos viralizaram nas redes e literalmente deram o que falar. Na primeira, o ex-presidente norte-americano Donald Trump fugindo da polícia. Já na segunda, era possível ver o Papa Francisco trajando um casacão branco bem descolado. Imagens que, de tão realistas, enganaram muita gente. Brincadeiras distintas (sem entrar no mérito do questionável gosto) com algo em comum: ambas inteiramente criadas por Inteligência Artificial (IA). Por outro lado, duas outras notícias também repercutiram bastante. A primeira veio de Fortaleza (CE) que recebeu uma nova faixa que ilumina pedestres durante a travessia. Um conjunto de luzes é acionado quando identifica a presença humana na faixa. A iluminação dinâmica é ativada com o caminhar das pessoas, lançando feixes de luz sobre quem está atravessando. A segunda veio de Campinas (SP). A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) inaugurou o laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento do Projeto Viva Bem que tem por objetivo promover pesquisas para a saúde e bem-estar, assegurando que o conhecimento produzido na universidade pública seja transferido para a sociedade. Em comum, as notícias trazem o mesmo denominador: o uso da IA para atingir os objetivos propostos.
Quem tem medo do lobo mau? Tudo é questão de perspectiva. O lobo pode nos mover adiante ou devorar. E isso depende unicamente de nossa reação. O maior exemplo foi a carta aberta que o bilionário Elon Musk e mais de mil pesquisadores, especialistas e executivos do setor de tecnologia publicaram nesta quarta-feira (29/03) conclamando empresas do mundo inteiro a realizarem uma pausa de seis meses no desenvolvimento de novas ferramentas de Inteligência Artificial diante do que chamaram de “perigosa” corrida armamentista. Confesso que, lendo isso, fiquei pensando no Homo Erectus que entre 1,8 milhões e 300 mil anos atrás descobriu que se esfregasse duas pedras, conseguia produzir uma faísca. Imaginem o caos lá no Paleolítico com um monte de homens com suas clavas discutindo o início de uma “perigosa” descoberta.
O lobo não é mau. A inovação não é má. Além de não ser má, é inevitável. Somos seres em constante evolução e viemos a este mundo para evoluir. A maldade está em nós e no uso que fazemos das novidades. Quem tem medo do lobo mau?
Sami Goldstein Empregado público federal e secretário de desenvolvimento econômico de Paulínia