Início Colunas Seguimos repetindo o óbvio por Sami Goldstein

Seguimos repetindo o óbvio por Sami Goldstein

Foi notícia em grande parte da mídia especializada. “Se triplicado o acesso ao Ensino Médio Técnico no país, o Produto Interno Bruto brasileiro poderia registrar aumento de até 2,32%, resultado decorrente da maior empregabilidade e rentabilidade promovida aos trabalhadores a partir da formação profissional”. A conclusão é da pesquisa “Potenciais efeitos macroeconômicos com expansão da oferta pública de Ensino Médio Técnico no Brasil”, do Itaú Educação e Trabalho, elaborada pelos pesquisadores Marcelo Santos, Sergio Firpo, Vitor Fancio e Clarice Martins. O estudo teve por objetivo examinar as consequências macroeconômicas da expansão do sistema de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), particularmente o Ensino Técnico dentro do Médio. A pesquisa mostra que esse cenário se dá principalmente pelo impacto positivo da EPT na vida profissional. Trabalhadores que concluem cursos técnicos têm, em média, um salário 32% acima dos que possuem o ensino médio tradicional. Além disso, a chance de conseguir um emprego depois de terminar o ensino técnico é maior. Isso se confirma pela taxa de desemprego entre essa parcela de profissionais, que é de 7,2%, em média, contra 10,2% da parcela com ensino médio de currículo normal. Apesar dos números irrefutáveis, hoje, só 8% dos estudantes brasileiros se formam no ensino médio técnico. Esse percentual é baixo em comparação com a realidade nos países que integram a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A média do grupo é de 32%.

Bertold Brecht (1898-1956), dramaturgo, poeta e encenador alemão, é considerado autor de uma frase que tem absoluta relevância nos tempos atuais. “Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?”, teria dito. O óbvio é o óbvio, oras. Deveria prescindir de defesa. No entanto, vivemos batendo na mesma tecla e literalmente chovendo no molhado. Essa pesquisa é o maior exemplo disto. Não precisamos ser pesquisadores para saber que, melhorando a qualificação profissional de nossos cidadãos, automaticamente teremos acréscimos na produtividade do país. É uma conta simples, como se diz, “de padeiro”. Segundo o estudo, investimento público para o aumento de vagas no ensino médio técnico traria impactos econômicos positivos para toda a sociedade e não apenas para indivíduos. Alguém duvida dessa conclusão tão óbvia? No entanto, seguimos repetindo o óbvio para ouvidos que parecem não escutar. Talvez, como dizia nossa grande Clarice Lispector, “o óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar.” Só há um caminho: capacitar para desenvolver. Há algo mais óbvio que isso?