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Sinal ou final dos tempos? Por Sami Goldstein

Minha mãe, que nesta semana completa 72 anos (e já aproveito para fazer uma homenagem a essa mulher guerreira e honrada) e mesmo morando há um tempão aqui no interior, mantém o hábito há mais de 3 décadas de frequentar seu dentista de confiança na capital (aliás, profissional do mais alto gabarito). O encontro de ambos invariavelmente acaba sendo hilário em determinado momento. A conversa foge da saúde bucal e envereda para temáticas apocalípticas bem ao estilo “final dos tempos”. Mas de tão profunda a discussão, não há como não prestar atenção. Afinal, com a velocidade dos acontecimentos e o lapso temporal de seus encontros, realmente muita coisa muda. Mudanças podem ser boas, mas também podem trazer algumas preocupações.

Duas notícias chamaram minha atenção desde a última coluna. De acordo com a Época Negócios, os preços das casas no Reino Unido estão subindo há anos e os jovens estão cada vez mais tendo dificuldade em comprar uma casa própria. De acordo com um estudo da empresa de listagens de imóveis Zoopla, apenas um quarto dos britânicos com menos de 40 anos possui uma residência. Esse fenômeno tem sido chamado de “guppies”, que é uma sigla para “geração que não pode comprar uma casa”. Os guppies são jovens que estão desistindo de comprar uma casa por conta do alto custo de vida, dos preços elevados dos imóveis e da falta de oportunidades de emprego. De acordo com o estudo, 42% dos guppies não pretendem comprar uma casa nos próximos 10 anos. Eles estão optando por viver com os pais, alugar um imóvel ou até mesmo viver em uma van. Viver em uma van… Já segunda traz que, em 2022, surgiu uma nova tendência de trabalho: a demissão silenciosa. Esse fenômeno consiste em funcionários que simplesmente param de se esforçar no trabalho, sem realmente pedir demissão. De acordo com a BBC, é difícil dizer o futuro da demissão silenciosa. É possível que esse fenômeno seja apenas uma moda passageira, mas também é possível que se torne uma tendência duradoura. Se a demissão silenciosa continuar a se espalhar, terá um impacto significativo no mercado de trabalho, segundo o jornal.

Fico aqui imaginando a cena dos dois no consultório. Sinal ou final dos tempos? Mudança para melhor ou retrocesso em tudo que avançamos até agora? Tenho certeza que a conversa renderia. Mas fato é que precisamos estar cada vez mais atentos ao que está acontecendo. Pode ser tanto uma guinada cultural quanto uma rebeldia sem causa. Neste meio de campo, fica nossa responsabilidade em criar políticas públicas cada vez mais assertivas de qualificação (e valorização) profissional, empregabilidade, geração de renda e, principalmente, consciência do coletivo. Não saber ao certo o que o futuro nos reserva não é desculpa para não fazer o que certamente está em nossas mãos para que tudo dê certo.

Feliz aniversário, Dona Frida Goldstein.