As tragédias deixam marcas de morte e destruição, assim como aconteceu na região Serrana do Rio de Janeiro, onde ocorreu o maior desastre natural do Brasil.
Os números impressionam, mais de 800 mortes e 500 desaparecidos. E como ajudar as vítimas dessa tragédia? Foi essa pergunta que o Guarda Municipal Rogério de Freitas, 39 anos, há 20 anos morador de Paulínia, começou a se fazer assim que viu em noticiários da TV, o número de pessoas vítimas da destruição causada pelas fortes chuvas de janeiro naquela região.
” Eu conversei com minha esposa e disse que tinha que fazer alguma coisa para tentar ajudar, então tomei a decisão de que iria arrecadar alimentos e água para levar até a região Serrana do Rio de Janeiro”.
Rogério “colocou a mão na massa” e iniciou, na terça-feira, 18, uma peregrinação pelas empresas que poderiam ajudar de alguma forma. “Por causa do trabalho conheço muita gente na cidade, e muitos empresários, fui até eles pedir ajuda e consegui muitas doações, inclusive o caminhão para levar as contribuiçoes”.
Nesse momento, Rogério, contou com ajuda das empresas TransPostos, TransDouglas, Construtora Gencons, Family, TransCarvan, Drogaria Duas Avenidas do João Aranha, Beta Transportes, Fertilizantes Heringer, os vereadores Jurandir Matos, Palito e Loira e apoio da Secretaria Municipal de Segurança, além da importante ajuda do seu amigo Carlos Renato de Barros, que conseguiu combustível para o caminhão e diversas caixas de leite.
Na quarta-feira, dia 19, pela manhã, Rogério chegava a base da Cruz Vermelha , na cidade de Teresópolis (RJ), em um caminhão contendo 6 toneladas de alimentos e água, juntamente com o motorista Diego Brunho.
Quando Rogério chegou ao local a primeira visão que teve foi de muita destruição e tristeza. “Nunca tinha visto um cenário como esse, só na televisão, foi difícil acreditar que eu estava ali vendo um local lindo parecido com Campos do Jordão (SP), totalmente destruído, e muita família sem água, sem comida”.
Bastante sensibilizado, Rogério não conseguiu apenas descarregar o caminhão e retornar à Paulínia. Assim, que entrou em contato com a tragédia sentiu que precisava ficar mais tempo para ajudar, pois segundo a coordenação da Cruz Vermelha no local, havia muitos voluntários, porém não havia transporte para levar os alimentos e água às famílias que estavam em localidades de difícil acesso. Muitas doações chegavam ao local, porém não tinha mão de obra para transportar os kits da Cruz Vermelha para as pessoas atingidas.
“ Eu e o motorista Diego não podíamos ir embora sem antes ajudar mais a população, então iniciamos um trabalho em equipe com outros voluntários e fomos distribuir alimentos e água às pessoas que estavam em locais onde os trajetos eram feitos apenas a pé”.
A experiência de estar ali em contato direto com a destruição, e vendo as famílias devastadas precisando muito de ajuda, não fez Rogério pensar duas vezes, apesar do cansaço físico. “Subíamos e descíamos barrancos para entregar as doações e cheguei em um cansaço tão grande físico, que tinha hora que faltava o ar, mas agente tirava força internamente, porque sabíamos que haviam pessoas precisando dessa ajuda. Cada criança que dava uma água lembrava dos meus filhos. O que eu passei foi uma coisa fora do comum”, disse Rogério.
No local, ele conta que não há como se emocionar apenas com um fato, mas com todos, porque viu muitas pessoas desoladas como mães, crianças e idosos pedindo água e comida na beira da rodovia Rio-Bahia.
”Eu trabalhei com a equipe de pessoas, voluntários à disposição, fizemos muita amizade, no meio dessa tragédia e que vai marcar a trajetória da minha vida. Nunca tinha presenciado e ajudado em uma tragédia como essa, mas se tiver estarei pronto para ajudar novamente. Ser voluntário tem que partir da pessoa, o povo de lá não estava esperando a gente pensar, o povo de lá está com sede e com fome”.