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Voltando pro planeta Terra por Sami Goldstein

Estamos num momento bem Elis Regina: “alô alô Marciano, aqui quem fala é da Terra. Pra variar, estamos em guerra. Você não imagina a loucura…”. Com as notícias cada vez mais corriqueiras de luzes piscantes não identificadas nos céus do sul do país, bem capaz de o marciano da canção ter atendido o apelo e resolvido dar as caras por aqui.  Portanto, (de certa forma) passada a turbulência, é importante “voltarmos” pro nosso planeta Terra, pisarmos no chão e lidarmos com questões de impacto em nosso futuro. É preciso seguir em frente. Vida que segue!

Uma ampla pesquisa conduzida por Sarah Gust (ifo Institute), Eric Hanushek (Universidade de Stanford) e Ludger Woessmann (Universidade de Munique) englobando 159 países que correspondem a 98% da população mundial e 99% do PIB global deu conta que quase 66% dos adolescentes brasileiros em idade de ingressar no ensino médio (ao redor de 15 anos) não possuíam, antes mesmo da pandemia, habilidades básicas nas áreas de leitura, ciência e matemática, como ler uma lista de compras ou realizar operações simples e explícitas, um quadro que deve ter se agravado com a desorganização que a covid-19 provocou sobre a educação no país. O relatório, trazido pelo Valor Econômico no início do mês, mostra que o Brasil está entre os 101 países em que mais da metade dos adolescentes não atinge competências básicas. A lógica é que estudantes mais habilidosos poderão ser profissionais mais produtivos, o que implicaria ganho de salários maiores e crescimento da renda, explica Sergio Firpo, professor da cátedra Instituto Unibanco no Insper. Some-se a isso um dado que já abordamos anteriormente e cujas atualizações só agravam o cenário: o Brasil é o segundo país na esfera da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com a maior proporção de jovens, de idade entre 18 e 24 anos, que não conseguem nem emprego e nem continuar os estudos — os chamados “nem-nem” —, ficando atrás apenas da África do Sul. Nessa faixa etária, 36% da população de jovens brasileiros estão sem ocupação.

É preciso ter foco! Os ET’s que nos perdoem, mas estão nos visitando na pior hora. Alô marcianos, estamos em guerra! Uma guerra silenciosa que exige diárias batalhas para que nossa juventude possa vislumbrar um futuro com dignidade. Ouço com frequência “mas os jovens não querem coisa alguma”. E nós ditos “mais experientes” não estamos falhando em nossa liderança? Nem o alienígena de Elis e muito menos nós somos capazes de imaginar e avaliar a loucura que tal situação impactará em todas as esferas da sociedade, principalmente no mercado de trabalho. É preciso qualificar e investir cada vez mais em mecanismos de capacitação, focando especialmente em tecnologia (não me canso de bater nesta tecla).  É hora de voltar pro planeta Terra!