Início Visto & Anotado A Pauliwood nossa de cada dia

A Pauliwood nossa de cada dia

Outro dia estava voltando do Centro pra casa no ônibus para o João Aranha e na parada do ponto na Avenida Paulista uma garota do banco de trás comenta com a amiga: “aquela não é a Petrobras?”. Após um respiro longo, ela completa: “eu adoro Paulínia, não quero ir embora daqui não”. Eu não conversei com ela. A julgar pela voz e tom sonhador, deveria ter seus 15 anos. Ela e a amiga desceram no balão do São José II, mas não saíram mais da minha lembrança.

Uma semana depois, a atriz e bailarina Cláudia Raia traz sua peça ‘Pernas pro ar’ para Paulínia, No palco, após arrancar aplausos calorosos do público, além de lamentar a falta de estrutura para as artes em sua cidade natal, Campinas, ela elogia a audaciosa iniciativa paulinense. “Paulínia está de parabéns por ter o melhor teatro do interior de São Paulo”.

Cerca de duas semanas depois, os experientes e reconhecidos profissionais da dramaturgia brasileira, Selton Mello e Paulo José, desembarcam na cidade e em entrevista com a imprensa, são categóricos: “O cinema brasileiro agora pode ser contado entre antes e depois de Paulínia”, ou ainda, “A cidade trouxe respeito e dignidade para o cinema e nós atores”.

Ao mesmo tempo em que ocorrem as gravações de ‘O Palhaço’ de Selton Mello, chegava a Paulínia a pré-estreia do longa de Daniel Filho, ‘As Vidas de Chico Xavier’. Seu destaque na produção reafirma com euforia: “Estou agradecido por esta cidade dar condições para que sejam realizadas grandes obras como este filme”, afirmou o protagonista Nelson Xavier.

Na última semana, a Revista ‘Isto É’ lançou sua edição com uma reportagem que rotula Paulínia: “Pauliwood, a Hollywood caipira”. O conteúdo de circulação nacional destaca as condições milionárias do município, as perspectivas dos governantes e ainda traz uma entrevista com uma moto girl da cidade, Keli Cristina, que conseguiu uma pontinha e alguns cachês para a família com a produção de ‘O Palhaço’. Essa foi a terceira figuração dela, segundo retratou a repórter Claudia Jordão.

No ônibus para a faculdade, um dos meninos comenta: “Ow, cê viu? Vai ter Os Melhores do Mundo de novo e quem mora em Paulínia paga meia. É sério, eu li no jornal. Não precisa ser estudante. Se levar o comprovante, paga meia em qualquer apresentação”. Mais tarde, em casa, escutei: “Fui lá no shopping (Paulínia Shopping) e vi placas anunciando: em breve cinema digital e 3D. Legal, né?”.

É óbvio que Paulínia não vive só das boas notícias. Mas, no fim das contas, são elas que se sobressaem e são elas que transformam o cotidiano de muita gente daqui e que de fora vêm em busca de algo mais. A garota no ônibus, quando disse que não queria ir embora, não fazia menção a nada que envolvesse diretamente o glamour e o foco do cinema. Do local onde estava e pela noite já adiantada, olhava para as duas torres da Replan, de onde vejo criptar, durante o caminho do ônibus e pela janela do quarto enquanto escrevo, as chamas do progresso.

Os comentários de famosos são situações recentes, que chamam a atenção e são destaque cada vez que renovadas por outra celebridade, e claro, têm um mérito importante na construção desse novo capítulo na história de Paulínia, mas as pessoas que continuam a chegar pelos mais variados motivos enxergam oportunidade em tudo e o que é melhor, não é uma visão viciada. É só uma visão clara e objetiva que traduz uma ânsia: é aqui que quero ficar.

A gente não sabe por quanto tempo as chamas vão criptar ou por quanto tempo a magia do cinema vai durar, mas a calcular pela dimensão de cada projeto realizado, quanto mais essa Pauliwood perdurar, mais e novos paulinenses hão de comemorar. Aqui, as oportunidades estão no quintal de casa.

Michele Carneiro é repórter há dez anos. Está em Paulínia desde 2003, onde atua em todos os setores de redação e diagramação. Como defensora do diploma para a prática do Jornalismo, está no terceiro período do curso.