Em entrevista exclusiva ao Jornal Tribuna, o pastor Ricardo Braga disse que durante o pleito de 2016, o então candidato a prefeito prometeu emprego à 40 mulheres de sua igreja caso fosse eleito, mas não cumpriu
Nesta semana, o Jornal Tribuna de Paulínia recebeu uma denúncia contra o prefeito de Paulínia, Dixon Carvalho (PP). O pastor Ricardo Braga afirmou que 40 mulheres, frequentadoras de sua igreja, foram ludibriadas com a promessa de emprego feita pelo chefe do Executivo paulinense. Segundo ele, as 40 fiéis trabalharam durante a última campanha eleitoral acreditando na promessa de que caso o então candidato ganhasse as eleições, todas elas teriam emprego garantido, o que até o momento não aconteceu.
O pastor relata que foi até a Prefeitura e conversou com Dixon. “O prefeito me recebeu junto com seu chefe de gabinete Reginaldo. Reconheceu que havia feito a promessa e prometeu novamente que todas estariam trabalhando em empresas que prestam serviço à Prefeitura em no máximo dois meses. Coloquei a ele a necessidade real e urgente delas. Ele mandou o seu chefe de gabinete providenciar 40 cestas básicas para suprir a emergência. Elas acreditaram e foram embora. Os dias se passaram e elas não receberam nem a cesta”.
Confira a entrevista na íntegra:
JT.: Gostaríamos primeiro que o senhor se apresentasse.
RB.: Meu nome é Ricardo Braga. Sou casado, empresário, professor e pastor. Estou na política há 15 anos e já ocupei cargos de secretário de cultura em Holambra, diretor de cultura em Campinas, já fui diretor da Orquestra Municipal de Campinas, fui vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura, assessor parlamentar, coordenador de várias campanhas políticas e em Paulínia fui chefe de gabinete da presidência da Câmara de vereadores.
JT.: O senhor disse que coordenou várias campanhas políticas. A do prefeito Dixon Carvalho foi uma delas?
RB.: Parte dela sim. Selecionei 40 mulheres em meio a um grupo enorme de pessoas contratadas e voluntárias durante a campanha. Essas meninas foram separadas e preparadas para um projeto específico dentro da campanha do prefeito Dixon.
JT.: Que projeto era esse?
RB.: Nós acreditávamos que essa eleição seria atípica. Sabíamos que disputaríamos voto a voto. Então, separei 40 mulheres e dentro da minha igreja, estudei com elas todo o projeto de governo do prefeito Dixon Carvalho. Estudamos, tiramos dúvidas, treinei com elas a abordagem de pessoas e quando elas estavam preparadas, saímos casa a casa para explicar o projeto de governo.
JT.: Explique melhor esse processo de abordagem.
RB.: Eu acordava às cinco horas da manhã. Pegava a van e por telefone avisava para todas irem aos pontos de encontro. Passava com a van e em duas viagens pegava todo o grupo. Levava o grupo para o bairro em que iríamos trabalhar e equipava todas com material de campanha. Orávamos e todas saiam batendo de porta em porta se apresentando e perguntando se o munícipe aceitaria que elas explicassem o plano de governo do prefeito, para que a pessoa pudesse ter mais subsídio para decidir o voto. Levavam consigo um caderno e anotavam o nome, endereço completo e telefone (caso a pessoa fornecesse) de todas as casas visitadas. Em um mês, visitamos 3 mil residências.
JT.: Mas seria possível visitar 3 mil casas em apenas 30 dias?
RB.: Sim, elas foram guerreiras. No início eram motivadas pelo salário do emprego temporário. Mas durante o treinamento e estudando as metas de governo, abraçaram o projeto como se fossem delas. Todas elas e eu queríamos convencer a população de Paulínia que a cidade teria um novo governo transformador e que esse governo seria do povo, para o povo e pelo povo. Víamos no projeto a real possibilidade de crescimento, emprego, modernização da saúde, incremento na educação, etc. Então para convencer o eleitor, nós primeiros fomos convencidos de que aquele projeto era o melhor para a cidade. Logo vi que a motivação inicial das meninas em torno do salário, se transformara em algo muito maior. A motivação agora era pela cidade de Paulínia. Por um futuro melhor. Daí tudo mudou! Elas eram pagas para trabalhar 8 horas por dia, mas trabalhavam dez, doze e as vezes 14 horas motivadas por acreditarem fazer parte da mudança que a cidade necessitava.
JT.: Da motivação pelo emprego temporário para a luta por uma Paulínia melhor. Como o senhor avalia essa mudança no processo?
RB.: Eu vi acontecer. Vi muitas defendendo um futuro melhor para nós. Eu vi nascer uma onda de esperança, otimismo e fé. Daí me dedicava mais por elas. Corria atrás de alimento, água e descanso. Gastei muito dinheiro do próprio bolso e as estimulava, protegia e seguia passo a passo. Tornamo-nos um só corpo com um só coração e uníssonos no mesmo discurso e na mesma esperança. Até hoje mantemos o nosso grupo no WhatsApp e mantemos contato diariamente. O grupo se chama Águias de Jesus e estou aqui representado esse grupo.
JT.: E agora, como está o grupo depois da vitória do prefeito Dixon?
RB.: Quem viveu o que vivemos nesses 30 dias não se separa. Nós passamos juntos, cansaço, fome e sede. Vi as bolhas nos pés dessas meninas. Vi trabalharem com cólicas, dor de cabeça, problemas em casa, contas atrasadas, etc, sem perder o ânimo. Vi essas meninas com o rosto, braços e pernas, queimados pelo sol intenso e exaustas ao final de cada dia. Uma delas trabalhava mesmo tendo o marido em fase terminal de câncer em casa (depois da campanha ele faleceu), vi uma menina trabalhar mesmo tratando da depressão, vi uma desmaiar por queda de pressão e se recusar a voltar para casa, vi uma continuar mesmo vivendo em casa o drama da violência doméstica, eu vi tanta coisa… No final de tudo isso, todas se alegraram com a vitória. Choramos, nos abraçamos e vivemos a colheita de tudo que foi plantado. Mas no fim tudo ruiu…
JT.: O que quer dizer com ‘tudo ruiu’?
RB.: Entreguei um relatório qualitativo e outro quantitativo do trabalho das meninas e esse trabalho foi tão reconhecido pelo grupo que o candidato e atual prefeito Dixon juntou as meninas antes do pleito e lhes prometeu trabalho após a eleição. Veja, ele reuniu o grupo antes das eleições e prometeu emprego a todas elas. Ele tinha a ideia de manter o trabalho das meninas junto aos moradores de Paulínia após a vitória.
Quando a vitória aconteceu, fiz um culto de ação de graças. O prefeito foi ao culto e ao final, novamente prometeu às meninas trabalho, reafirmando o que já havia dito durante a campanha. Todas se alegraram muitíssimo e creram. Mas logo após, vimos ser montado um corpo de secretários de fora que nem de longe conhecem a realidade de Paulínia. Vimos também serem contemplados pessoas que não participaram da campanha, que não sofreram conosco e que agora estavam compondo o quadro do novo governo. E por fim, vimos que não tínhamos mais a mesma importância para o governo eleito, quando esse mesmo grupo de fora, blindou o prefeito impedindo que nós, que efetivamente o elegemos, não tivéssemos mais acesso a ele.
JT.: Então, durante a campanha eleitoral ele prometeu que se ganhasse, daria emprego ao grupo de mulheres?
RB.: Sim. Em duas oportunidades ele afirmou isso, mas até agora não houve emprego algum para nenhuma delas. Tenho a listagem com o nome de todas elas e também das que se predispuseram a expor sua identidade e a falar claramente sobre o fato. É só entrar em contato.
JT.: Como vocês reagiram a isso?
RB.: Nesse grupo não tem covarde. Decidimos nos unir para cobrar a promessa feita. Janeiro, fevereiro, março e abril. Quatro meses de contas atrasadas, falta de comida na geladeira, filho perdendo aula, etc. Elas não esperaram mais. Se juntaram e foram a Prefeitura em busca de resposta. O prefeito me recebeu junto com seu chefe de gabinete Reginaldo (Reginaldo Antonio Vieira). Reconheceu que havia feito a promessa e prometeu novamente que todas estariam trabalhando em empresas que prestam serviço à Prefeitura em no máximo dois meses. Coloquei a ele a necessidade real e urgente delas. Ele mandou o seu chefe de gabinete providenciar 40 cestas básicas para suprir a emergência. Elas acreditaram e foram embora. Os dias se passaram e elas não receberam nem a cesta. Nesta semana, voltaram a Prefeitura e receberam a notícia que o Prefeito viajou e só volta dia 24. Tirou uns dias de descanso. A revolta delas cresceu e na terça-feira (11) foram à Câmara dos vereadores cobrar deles também posicionamento de defesa do povo.
JT.: O que elas pretendem fazer agora?
RB: Vão lutar até que a promessa seja cumprida. Vão cobrar o governo sobre a realização de tudo que foi prometido à população. E se não acontecer, estão determinas a voltar, casa a casa e pedir desculpas ao povo que como elas, acreditou na transformação de Paulínia. É incrível ver que mesmo diante de tudo elas ainda estão unidas pela cidade. São gente do povo que aprenderam a não olhar apenas para o próprio umbigo. Elas têm empatia e querem que todas as promessas feitas, a elas ou à população, sejam agora cumpridas.
JT.: E como o senhor vê tudo isso?
RB.: Com muita tristeza, mas também com muita motivação de fazer acontecer. Sou professor e pastor. Se tem algo que me motiva é ver a mudança de um ser humano quando ele acredita em Deus e em si próprio. Como professor, dei aulas em muitos bairros carentes e de graça. Vi pessoas fazerem cursinhos preparatórios para o ENEM e vestibulares em geral e serem aprovadas em universidades públicas. Estudando com garra adquiriram outro “status quo”, mudando a sua vida e a vida da sua família. Vejo todo dia dentro da igreja pessoas que o mundo rejeita, renascerem das cinzas por causa da fé e vejo todos os dias o milagre da transformação acontecer. Vejo pessoas rejeitadas, endividadas, divorciadas, envolvidas com drogas, doentes, etc, darem a volta por cima pela fé. Vejo Deus atuar abrindo as portas e criando oportunidades.
Dentro do projeto de governo criei a incubadora de empresas com esse propósito. O propósito de gerar emprego e capacitar pessoas para serem empresárias gerindo o próprio destino. Estive com o secretário de Indústria e Comércio, dr. Rui Rabelo. Levei a ele meu projeto, expliquei com entusiasmo e quis ajudar. Entreguei uma apresentação e levei professores da USP, doutorandos que trabalham com o tema “incubadora” e o autor da lei da MEI dr. Maurício Judice. Entreguei tudo de mão beijada. Quatro meses se passaram e nada acontece.
JT.: Na sua opinião porque o projeto incubadora ainda não aconteceu?
RB.: Na minha opinião nosso secretário é burocrata, muito teórico e pouco prático. Pensa em projetos grandes como Polo de Ciência e Tecnologia como fonte geradora de empregos. Relatei a ele que isso é muito bom, mas pouco funcional para a necessidade do momento. Expliquei a realidade de Paulínia para ele. Disse que o pastor vai onde o governo não chega, no sofá da sala de estar. Relatei que a falta de emprego simbolizada por um número (14% em Paulínia) é na verdade um drama social sem precedentes e que dentro do projeto grandioso dele, o pequeno, o despreparado, o desamparado, não encontrará abrigo.
Fiz o apelo para que ele olhasse melhor para o meu projeto e sem desqualificar o dele, incorporasse também o meu. Mas a resposta que tive foi: “sei que não sou de Paulínia e não nasci em paulina. Mas sou um estudioso de Paulínia”. Como assim estudioso? O que um estudioso sabe dos dramas reais de nosso povo? Quantas bolhas existem em seus pés e suas mãos? Quantas das suas contas estão atrasadas? Quanto de sofrimento ele conhece do nosso povo e por quais ele passou? Um estudioso sem empatia é frio, longe da realidade e cheio de projetos que inflam apenas o próprio ego e detrimento de um povo que continua sofrendo.
JT.: Já registramos a sua queixa. Sua denúncia será publicada no Jornal Tribuna. Gostaria de dizer mais alguma coisa?
RB.: Sim. Meu povo, vim para Paulínia há 15 anos e estou aqui agora como paulinense. Peço desculpas por também acreditar que essa mudança aconteceria em 100 dias, mas ainda acredito nela. Depende de nós. Vamos cobrar, levantar nossas cabeças e exigir o que temos direito. Tenho comigo 40 mulheres guerreiras e espero que se multipliquem em muitas outras e outros pela cobrança até que todo o projeto seja cumprido. Espero que os vereadores façam a sua parte cobrando e fiscalizando o cumprimento de tudo. Quero agradecer em especial os vereadores Kiko e Tiguila, que tem me ouvido e se importado com a situação. Eu me coloco agora a disposição de todos os outros para explicar o projeto. Quero dizer que vou lutar por essa incubadora da forma como concebi e foi aceita pelo então candidato e agora prefeito Dixon, sem as modificações que afastam dela os mais humildes, como quer o seu secretário, que até agora (4 meses depois) está cheio de ideias apenas e um contrato firmado com a Unicamp nas mãos. E por fim quero agradecer a essa terra e seu povo por tudo e por todos, já que tenho vivido na prática a máxima de seu hino: “… Estrangeiro que aqui comparece e se alista na nossa legião, jubilosa cidade agradece, por que é mais que um amigo, um irmão…” . De um irmão para outro, muito obrigado e que Deus nos abençoe.
Mulheres que confirmam a promessa de emprego e concordaram em ter seu nome revelado
Adriani Maria da Conceição Passos
Antonia Ilza da Silva Costa
Bruna Souza da Silva
Cleidiane Ramalho de Souza
Carla Souza dos Santos
Danilla Margareth Faria
Enidia Soares Costa
Erika Cristina Martins
Fatima Ferro
Fabiana Ribeiro
Gislaine Daiane Veronez
Geralda Martins de Oliveira Veronez
Hellen Andressa
Ivonete Francisco
Julieta Moreira
Janaína Líbano
Kethellen Andressa Felix
Luciane Lima da Silva
Luciane Aline Felix
Lucineia dos Santos
Maria Auxiliadora
Maria de Fátima do Nascimento
Maria do Carmo Bispo da Purificação
Maria Everlania
Magna Rodrigues dos Santos
Natalia Cristina de Souza Carlos
Oreniva de Oliveira
Pamela Karoline dos Santos Silva
Rosangela Maria dos Santos
Rosinalva dos Santos
Rosimary Gonzalez Rozani
Silvana Inacio Pinto
Simone Donizete Agostineo
Tania Aparecida Silva Ribeiro
Thayane da Silva Menezes