Início Colunas Mãe, nossas maiores reticências por Sami Goldstein

Mãe, nossas maiores reticências por Sami Goldstein

Faz tempo que não conto uma história, não é mesmo? Em uma delas, duas tribos estavam em guerra. Uma vivia na parte baixa; a outra, na parte alta das montanhas. Um dia, a parte baixa foi invadida pelos povos do alto, que, além de saquearem os inimigos, raptaram um bebê e o levaram para as montanhas. Os povos da parte baixa não conheciam os caminhos usados pelos povos da montanha. Não sabiam como chegar ao alto, encontrar os inimigos ou rastrear seus passos pelos terrenos escarpados. Mesmo assim, enviaram seus melhores guerreiros para subir a montanha e trazer a criança de volta. Os homens tentaram diferentes métodos de escalada. Primeiro um caminho, depois outro. Após vários dias de esforços, não tinham subido nem quinhentos metros. Sentindo-se impotentes e sem esperança, os homens da parte baixa consideraram a causa perdida e se prepararam para voltar a sua cidade. Enquanto arrumavam o equipamento para a descida, viram a mãe do bebê andando na direção deles. Perceberam que ela estava descendo a montanha que eles não tinham conseguido subir. E então descobriram que o bebê estava amarrado às costas da mulher. Como era possível? Um dos homens a saudou, dizendo: “Nós não tivemos êxito em subir a montanha. Como você chegou ao alto se nós, os homens mais fortes e capazes da cidade, não conseguimos?” Ela encolheu os ombros e respondeu: “É que não era o filho de vocês quem estava lá.”

Em tempos de inteligência artificial, é preciso uma pausa para relembrar a inteligência sobre-humana que nos gerou. Em tempos de mercado de trabalho cada vez mais voraz por mão de obra qualificada, é preciso para dignificar a maior torcedora pelo sucesso dos filhos. Estudos recentes realizados por instituições como o Grupo Globo e o IBGE, revelam que, atualmente, mais de 48% dos lares brasileiros têm mulheres como chefes de família. Ou seja, como as principais responsáveis pelo sustento da casa e dos filhos. O número representa quase o dobro do percentual levantado em 1995 ― que era de 25% ― e tende a aumentar ainda mais quando olhamos para os 20,65 milhões de lares de baixa renda no país, dos quais 81,6% são chefiados por mulheres. São batalhadoras mães que incansavelmente sobem e descem as montanhas do cotidiano por um único motivo: seus filhos estão lá contando com elas!

Heroína, guerreira, rainha ou qualquer outro termo carinhoso que escolhamos. A verdade é que nenhum adjetivo jamais será capaz de estar à altura do que elas nos representam. Mães são, na verdade, nossas maiores reticências. Aqueles três pontinhos no final da frase que pouco falam, mas dizem tudo.

Mães, em nome de todos os filhos: obrigado por nunca desistir de nós, por mais aterrorizante que seja a montanha!

Feliz Dia das Mães.