Início Paulínia Posse de Dixon Carvalho vira “culto religioso” na Câmara

Posse de Dixon Carvalho vira “culto religioso” na Câmara

Com a Bíblia em mãos, Dixon lê o Salmo 75: discurso de caráter religioso incomodou os participantes
Com a Bíblia em mãos, Dixon lê o Salmo 75: discurso de caráter religioso incomodou os participantes

O prefeito eleito fez orações, pediu aplausos à Jesus Cristo e tocou cinco músicas evangélicas que, segundo ele, representam sua vida

Eleitores que participaram da Solenidade de Posse dos candidatos eleitos em 2016 ficaram frustrados com o discurso do prefeito Dixon Carvalho. Quem esperava por palavras de conforto, que sanassem as preocupações sobre greves, crises e atrasos nos salários dos servidores de Paulínia, voltou para casa com as mesmas dúvidas.
“Ele usou a tribuna da Câmara Municipal como se fosse um pastor. Aquilo para mim foi uma espécie de culto evangélico. Colocou ‘musiquinha’ gospel e pediu aplausos para Jesus. Estamos aqui para ouvir o que será da nossa cidade. Sobre religião, a gente escuta na igreja e eu sou católico!”, disse o professor Sandro Castro.
Dixon Carvalho iniciou seu discurso pedindo uma salva de palmas à Jesus Cristo. Em seguida, fez agradecimentos aos familiares, amigos, equipes de trabalho e aos vereadores eleitos.
Logo depois, pediu que todos ficassem em pé para que ele fizesse uma oração de agradecimento à Deus. De olhos fechados, ele orou. “Senhor, meu Deus. Sei que estamos aqui porque houve sua permissão. Sei que muitos contribuíram, mas que a vitória veio das suas mãos. Quero neste momento dizer que estarei aqui para te honrar, estarei aqui para servir a ti e a teu povo. Estarei aqui para sempre estar fazendo o que é justo e com muito amor. Muito obrigado, senhor, por esta oportunidade”.
Após receber tímidos aplausos, o prefeito eleito falou sobre sua vida pessoal e sua trajetória política, afirmando que todos os seus passos foram espelhados no Senhor. Dessa forma, pediu que os técnicos da Câmara colocassem uma música que, segundo ele, representa sua relação com Deus. A música gospel é “Raridade”, interpretada por Anderson Freire, teve duração de cerca de cinco minutos e em todo tempo, Carvalho ficou de cabeça baixa.
Na sequência, disse que sofreu com muitas inverdades ditas sobre ele e pediu a segunda música, “Meu Barquinho”, de Giselli Cristina & Moises Cleyton. Novamente, ficou de cabeça baixa, em oração.
Ao final da canção, Dixon disse que enquanto preparava tudo que estava dizendo à população presente na solenidade, ficou isolado, para que Deus o usasse como instrumento de palavra. Então, com a Bíblia em mãos, leu o Salmo 75.
Dixon disse que muitas pessoas tentaram o derrubar na Justiça para que ele não fosse diplomado ou empossado. “A esses, eu tenho uma mensagem. Música 3, por favor”. Nesse momento, passa a tocar a canção gospel “Advogado Fiel”, de Bruna Karla. E ao final da música, revelou: “O chefe de nosso Departamento Jurídico se chama Jesus”. E pediu para tocar mais um hino evangélico: “Sabor de Mel”, de Damares.
Segundo Dixon, o quinto e último hino evangélico seria dedicado a todos os seus eleitores, para que soubessem como Deus entrou na sua vida. A música escolhida pelo prefeito é “Sonda-me”, de Aline Barros.
Dixon Carvalho encerrou seu discurso dizendo que todas as cinco canções representam momentos de sua vida e seus sentimentos. “Só quero pedir que Deus me faça seu instrumento para governar essa cidade. Feliz Ano Novo para todos nós”, encerrou.
Ao final, o presidente da sessão solene, Kiko Meschiatti, encerrou o evento e convocou os vereadores para a primeira sessão extraordinária, que definiria a mesa diretora da Câmara de Paulínia para o biênio 2017/2018.
Insatisfação
Na saída, eleitores que acompanharam o discurso estavam insatisfeitos. A auxiliar de limpeza Monica Santos Oliveira disse que teve a sensação de participar de um culto religioso. “Respeito a religião dele, mas aqui estamos num local público e ele não pode impor isso para ninguém. Eu, por exemplo, sou eleitora dele, mas sou umbandista com muito orgulho. Como você acha que estou me sentindo?”.
O contador Carlos Alberto Moreira também não concordou com o posicionamento do prefeito. “Olha, eu sou evangélico, mas me senti constrangido pelas pessoas que estavam ao meu lado e que não são. Viemos aqui para ouvir sobre política, apenas isso”.
Cassia Beatriz Nonato disse que entende o prefeito. “Ele está emocionado porque depois de tanta luta, conseguiu o que queria. Ele só quis agradecer à Deus”.

 

Repercussão
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Após o encerramento da solenidade, o discurso do prefeito eleito rendeu inúmeros comentários nas redes sociais. Nos grupos de discussão política no Facebook, muitos internautas acharam desnecessárias as palavras de caráter religioso e pediram que a política de Paulínia fosse levada à sério.
“Aquilo foi um discurso ‘fake’ de uma pessoa que não tem a mínima noção do que está acontecendo com a nossa cidade. Mais respeito com a nossa política, senhor prefeito”, disse um internauta.
Em sua página pessoal, o internauta Felipe Carriel fez um desabafo sobre o assunto. Leia na íntegra.