Texto:Jornalista Vera Leão
“Nossa orientação é para não assinar, quem quer a continuidade da greve é o governo. Não estamos no movimento para negociar dias parados”, disse o presidente do Sindicato, Eudinei Cabral, durante assembleia de servidores, sobre proposta do governo
Mais de 100 servidores públicos estiveram na Delegacia de Polícia de Paulínia, nesta quinta-feira, dia 26, para formalizar um boletim de ocorrência (BO) e denunciar a Prefeitura de Paulínia por assédio moral em resposta a uma proposta feita aos grevistas “que não desejam ter os dias parados descontados de uma única vez”. De acordo com o advogado do STSPMP (Sindicato dos Trabalhadores Servidores Públicos Municipais de Paulínia), Rafael Ceroni Succi, devido ao grande número de pessoas, o delegado pediu que fosse feito um único BO coletivo para representar a todos.
A grande maioria dos servidores, além de rejeitar a proposta, considera que o prefeito está assediando os grevistas com uma cilada. “Isso aqui é uma armadilha”, concluiu o presidente do sindicato, Eudinei Cabral, durante uma assembleia de servidores, no Dia D da greve, na quarta-feira, dia 25. “Nossa orientação é para não assinar, quem quer a continuidade da greve é o governo, quem quer a continuidade do movimento é o governo. Não estamos no movimento para negociar dias parados, estamos aqui pela nossa luta, pelos nossos direitos”, acrescentou. O sindicato ingressou com ação judicial contra a prática de assédio moral e o processo já está em andamento na Justiça. De acordo com a proposta do governo, os trabalhadores compensariam dois terços dos dias parados até o momento e a Prefeitura descontaria um terço, em três vezes.
Ainda durante a assembleia, Cabral falou em abaixo assinado, em tomar medidas mais enérgicas em relação ao governo e distinguiu os vereadores “Ontem na Câmara já houve uma demonstração, caíram-se as máscaras, agora sabemos quem está em cima do muro, quem está conosco e sabemos quem dorme na sessão. Lá estava uma bagunça e acreditem, tinha vereador cochilando, tinha vereador pescando”.
O líder sindical, Reginaldo Lopes, também orientou os grevistas sobre o acordo da Prefeitura. “Que fique bem claro, é um acordo unilateral, que eles propuseram, ou você assina ou não assina, mas se assinar, qualquer acordo ou decisão da Justiça não abrange esse acordo, sendo a decisão da Justiça, positiva ou negativa. Se for uma decisão favorável, o acordo “matou” essa decisão, se for uma decisão desfavorável ao trabalhador, o acordo está valendo, que fique bem claro isso. Em vez desse governo sentar e negociar, fica ameaçando o trabalhador, numa situação calamitosa. Isso é vergonhoso, viu senhor prefeito?”, comentou Lopes.
O Dia D da greve reuniu ainda alunos de escolas municipais, como a Etep (Escola Técnica de Paulínia), professores, diretores de escolas municipais, servidores de vários departamentos da Prefeitura, políticos, além de munícipes. Dois alunos “tomaram” o microfone e expuseram suas aflições sobre a falta de aulas e sobre a incerteza de conclusão do ano letivo. Um professor também deixou registrada sua decepção com o governo e sobre sua maneira de lidar com as reivindicações dos servidores. “Não podemos ficar mais de cinco anos sem ter reajuste, sem acompanhar a inflação, não estamos pedindo aumento, é só o nosso direito garantido pela Constituição, porque a inflação está aí comendo o nosso salário, há cinco anos”.
O dia “D” teve o objetivo de reunir cerca de cinco mil pessoas para pressionar o governo, mas apenas cerca de 1500 trabalhadores, moradores e funcionários que não aderiram à greve compareceram ao paço municipal.
Segundo Succi, o movimento continua forte, apenas um número bem pequeno de servidores teme as ameaças do governo. “Poucos estão apreensivos e com medo das atitudes do governo e querem assinar o acordo da Prefeitura, mas a maioria continua firme. A única punição que pode ser realizada é o desconto dos dias parados, o prefeito não pode demitir os grevistas”.
Mais uma audiência sem acordo
Na segunda-feira, dia 23, mais uma audiência terminou sem acordo entre o sindicato e a Prefeitura. “Foi infrutífera, não houve acordo, ambos recusamos as propostas feitas. A Prefeitura insiste no desconto dos dias parados dos trabalhadores e nós insistimos que no máximo, aceitamos a reposição, não o desconto”, afirmou o presidente do sindicato Cabral. O secretário de Negócios Jurídicos, Leonardo Ballone, ao sair da audiência limitou-se a proferir. “Não tenho nada a dizer”.
Prefeitura ameaça fazer novas contratações
A Prefeitura de Paulínia, através de sua assessoria de imprensa comunicou na tarde desta sexta-feira, dia 27, que vai realizar novas contratações para suprir a falta dos funcionários grevistas, num primeiro momento, para as áreas da educação e saúde.